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04 de Setembro de 2019

Trabalhadores de agrotóxicos são os campeões de suicídio no mundo do trabalho


Escrito por: Agências


Agências

O agronegócio é o setor econômico que concentra as maiores taxas de suicídio entre trabalhadores. De 2007 a 2015 foram registrados 77.373 suicídios, cerca de 8.597 por ano. Corresponde a uma mortalidade anual de 8,9 por 100.000 indivíduos em 2007, e de 10,5 em 2015. O dado consta da edição de agosto do Boletim Epidemiológico do Centro Colaborador da Vigilância dos Agravos à Saúde do Trabalhador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Segundo os autores do artigo, a perda do emprego e o desemprego prolongado levam ao desalento, à depressão e outros transtornos, que por sua vez levam a pessoa a tirar a própria vida. Além disso, condições de trabalho e emprego específicas, que levam ao  estresse psicológico no trabalho, como violência e assédio, ou mesmo o contato com substâncias químicas que produzem alterações endócrinas no funcionamento neuroquímico, podem também desencadear transtornos mentais ou neurológicos que evoluem para o suicídio.

Segundo o Boletim, o suicídio é menos frequente em homens e mulheres na faixa etária a partir dos 25 anos até 36-45 anos. E maior entre aqueles com maior idade. No entanto, é mais comum entre as trabalhadoras mais jovens, que nem chegaram aos 25.

Ainda não há um consenso sobre as causas desse fenômeno complexo e multifatorial, que afeta de maneira perversa também os amigos e familiares. Do que se sabe atualmente, entre as explicações estão  a baixa renda, a instabilidade no emprego, pressão por produtividade, acesso limitado à educação e aos serviços de saúde de qualidade.

Agrotóxicos

No entanto, resultados de diversos estudos sugerem que a exposição a substâncias químicas, presentes nos agrotóxicos, pode ser uma causa importante. Muitas delas, por sua ação no sistema nervoso central ou desreguladora do sistema endocrinológico, estão associadas ao aparecimento da depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas, entre outros transtornos mentais causadores do suicídio.

“É necessário mencionar que algumas ocupações, ao facilitar o acesso a venenos que podem ser letais, permitem circunstâncias favorecedoras do suicídio”, destacam os autores do Boletim.
A associação entre trabalho na agropecuária e suicídio não é exclusiva do Brasil. Em várias regiões do mundo, estudos confirmam essa relação. É o caso de uma comparação entre todas as pesquisas de alta qualidade publicada em 2018 por pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Rennes 1, da França.

A proteção da exposição a agrotóxicos, como exercício do princípio da precaução, é recomendada por estudiosos, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas Nações Unidas (ONU), que recomendam a eliminação do uso dessas substâncias e a transição para práticas agroecológicas, fundamentadas na sustentabilidade.

“A mortalidade por suicídio em trabalhadores da agropecuária foi estimada em 16,6 x 100.000 em 2007, aumentou para 18,6 em 2011 e saltou 20,5 em 2015. Isso representa o dobro da média nacional em cada ano. Em comparação, trabalhadores da indústria tiveram 10,8, 11,8 e 14,2 x 100.000 em cada ano, valores mais próximos das estimativas nacionais, com cerca de 20% de diferença. É a expressão do genocídio do agronegócio”, afirma a médica Raquel Rigotto, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.

Essa preocupação remete a categoria dos trabalhadores químicos, principalmente na campanha salarial, a exigirem também permanente atenção  preventiva no campo de saúde mental

Campanha de Prevenção do Suicídio entre a população em geral 

Durante todo o mês de setembro diversas ações serão vistas em todo o Brasil, em um movimento chamado de Setembro Amarelo, para chamar a atenção da população para esse problema. O suicídio é um assunto complexo, pois ninguém se mata por um único motivo, mas a prevenção é possível e algumas ações podem ser feitas por todas as pessoas. Permitir que as pessoas desabafem e falem sobre seus sentimentos sem receber críticas é um meio de evitar que se pense na morte como solução para as dores.

Em junho deste ano o CVV lançou uma série de vídeos para se prevenir o suicídio entre jovens e adolescentes, faixa etária em que mais cresceram os índices de suicídio no país. É uma iniciativa para permitir que toda a população se engaje na causa e possa se capacitar para identificar sinais, pedir e oferecer ajuda. Os vídeos estão disponíveis no YouTube e para download no site do CVV.

O CVV tem mais de  110 postos de atendimento em todo o país com mais de 3.000 voluntários em atuação.. Exemplos de ações são a iluminação em amarelo de prédios e monumentos, caminhadas e passeios ciclísticos, palestras e rodas de debates entre outras ações.