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23 de Julho de 2020

Impactos da pandemia no mercado de trabalho em geral


Escrito por: Dieese


Dieese

Em maio, 26,3 milhões de brasileiros declararam não ter trabalhado nem procurado trabalho, mas que gostariam de estar trabalhando. Entre eles, 18,5 milhões afirmaram estar nessa situação por causa da pandemia de Covid-19.

Do total de ocupados, 19,0 milhões estavam afastados do trabalho. Desses, 15,7 milhões disseram que o motivo do afastamento era a pandemia e 9,7 milhões relataram ter deixado de receber remuneração.

Este boletim analisa a situação do rendimento dos trabalhadores que permaneceram ocupados em maio, em meio à pandemia.

Impactos da pandemia na ocupação

Cerca de 36% dos trabalhadores ocupados em maio (30 milhões de pessoas) tiveram alguma perda no rendimento na comparação com a situação anterior à pandemia. A redução média do rendimento foi de 61%.

Esse quadro se deve em grande parte à redução de demanda na economia ou à impossibilidade de o trabalho ser realizado diante das regras da quarentena. Cerca de 61% dos ocupados afastados das atividades tiveram perda média de 49% nos rendimentos.

As perdas foram maiores entre os trabalhadores de serviços e do comércio: Cabeleireiro, manicure e afins (58%), Vendedor ambulante - feirante, camelô, comerciante de rua, quiosque (49%), Artesão, costureiro e sapateiro (40%) e Comerciante - dono do bar, da loja etc. (39%). 

Já os militares, os trabalhadores de apoio administrativo, em cargos de direção e os mais qualificados (profissionais com ensino superior ou técnicos de nível médio) tiveram perdas menores nos rendimentos.

Os trabalhadores dos setores relacionados aos serviços, comércio e construção foram os que apresentaram perdas de rendimento mais expressivas. Houve redução de 50% no rendimento para aqueles que continuaram trabalhando no segmento Outros serviços1 e de 33% para os alocados em Alojamento e alimentação.

A pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Covid, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), trouxe novos elementos para se compreender melhor a situação do mercado de trabalho durante a pandemia, principalmente em relação a algumas ocupações que não são facilmente captadas pela Pnad Contínua.

Uma ocupação que chama a atenção no atual contexto é a de Entregador de mercadorias (de restaurante, farmácia, loja, Uber Eats, IFood, Rappy etc.), com número de trabalhadores estimado em 646 mil pessoas no Brasil, dos quais 94% são homens e 62%, negros. O rendimento médio efetivo desse pessoal em maio foi de R$ 1.142, cerca de 18% a menos do que o habitual.

Destaca-se que a massa de horas efetiva diminuiu 19% em relação ao usual, o que sugere diminuição da demanda desse tipo de serviço.

A ocupação de Motorista (de aplicativo, de táxi, de van, de mototáxi, de ônibus) tinha pouco mais de 2,1 milhões de trabalhadores no país. Quase a totalidade era do sexo masculino (95%) e 59% eram negros. O rendimento desse grupo também foi de R$ 1.142, mas com queda de 39% em relação ao habitual. Destaca-se que a jornada média de trabalho diminuiu 48% em maio.

Entre os Médicos, enfermeiros, profissionais de saúde de nível superior, o contingente estimado foi de 1,8 milhão de trabalhadores, 82%, mulheres, e apenas 33%, negros. O rendimento diminuiu 21% e a jornada, 24%. Vale lembrar que muitos profissionais dessa área também se mantiveram em isolamento social e não trabalharam durante esse período.

Por fim, a ocupação de Faxineiro, auxiliar de limpeza etc. (em empresa pública ou privada) era composta de pouco mais de 2,4 milhões de pessoas, com 68% de mulheres e 67% de negros. A jornada de trabalho diminuiu 36%, mas o rendimento efetivo caiu apenas 7%, se comparado ao recebido regulamente.

Impactos entre os trabalhadores informais e auxílio emergencial

A pandemia e o isolamento social tiveram maior impacto entre os trabalhadores informais. Mais da metade (56%) teve perda de rendimento. Entre os formais, 26% apresentaram redução da renda.

A renda dos informais caiu 36%, percentual mais alto do que o verificado entre os trabalhadores com carteira assinada (12%).

Entre os trabalhadores que continuaram em atividade, mas que perderam renda, metade recebeu o auxílio emergencial. Os ocupados que acessaram o auxílio recebiam R$ 1.427 como rendimento do trabalho e tiveram perda de R$ 901 em média. Isso significa que o auxílio (com valor de R$ 600 ou R$ 1.200, dependendo do caso) praticamente cobriu a maior parte das perdas.

Para 76% dos ocupados cujos rendimentos foram reduzidos e que conseguiram acessar os R$ 600 de auxílio, o valor do benefício foi suficiente para cobrir as perdas. Entre os ocupados que receberam R$ 1.200 como auxílio, 92% tiveram as perdas cobertas.