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O avesso do combate ao trabalho escravo e os químicos

O atual governo é o avesso do governo anterior (Lula e Dilma), que estava comprometido com o direito dos trabalhadores e diversas políticas sociais, além do combate sistemático ao trabalho escravo. Michel Temer, o avesso, voltado para o mercado predador, está comprometido até a medula óssea com a corrupção e  sendo entreguista de nossas riquezas ao capital internacional. Para aplainar o caminho ao capital internacional, já que pretende vender terras nacionais aos estrangeiros, no último dia 13 de outubro baixou uma portaria do Ministério do Trabalho para revogar de vez o combate ao trabalho escravo.  Criou mil e um obstáculo para o reconhecimento do trabalho análogo à escravidão, principalmente no campo.  Quer com isso disseminar práticas escravagistas como avesso também da política de direitos humanos conquistada em 1948!

Dias atrás, tive oportunidade de conhecer detalhadamente um dos processos de condenação por trabalho escravo de fazendeiros do Mato Grosso do Sul em trâmite no Tribunal Federal de São Paulo, a pedido da Coordenação do  Núcleo de Pesquisas de Violência e Segurança, da Universidade de Brasília, do qual faço parte como pesquisador voluntário. A narrativa e as provas que são bem elaboradas pela fiscalização do Ministério do Trabalho não deixam dúvidas dessa mazela. Os trabalhadores são aliciados por "gatos". Com  um mísero vale têm de comprar tudo  (sabão, material de higiene, etc…) e ficar devendo pra esse "gato". Moram na própria pastagem, debaixo de lonas improvisadas e galhos de árvores. Tomam água do próprio banhado, onde tomam banho junto com os animais da pastagem. Fazem as necessidades limpando-se com a folhagem nativa destes campos.  Pior: sem qualquer proteção devem aplicar venenos (herbicidas) e outros agrotóxicos organoclorados, entre outros, cujos efeitos tóxicos sobre as pessoas são devastadores. Velhos conhecidos dos trabalhadores quimicos aqui em São Paulo.

O interessante, que na condenação de um dos fazendeiros, a pena de prisão em segunda instância foi aumentada  pelo fato do fazendeiro ter deixado os trabalhadores sem qualquer proteção na aplicação desses produtos quimicos ( venenos e agrotóxicos).   O avesso do atual governo, deixando inerte a fiscalização do Ministério do Trabalho, é dar continuidade a uma prática mais do que medieval e desumana. Tudo ao capital, e gozo pleno aos capitalistas predadores rentistas!. Uma inversão total dos princípios da solidariedade humana!!! Com as novas medidas o Ministro do Trabalho de Temer se equipara a um capitão do mato. Está sedento pela continuidade do trabalho escravo  assim como patrocina o maior retrocesso trabalhista ao propor a atual "Deforma" Trabalhista que entrará em vigor em novembro de 2017. 

A questão dos agrotóxicos e dos herbicidas está presente no dia a dia na vida dos quimicos. Bem conhecemos os resultados desta contaminação. Várias lutas ocorreram contra a contaminação na área química no Estado de são Paulo: como a Ferroenamel (Chumbo); Matarazzo ( Benzeno); Solvay ( Mercúrio) ( todas no ABC); Nitroquimica ( Dissulfeto de Carbono), em SP; e ultimamente a contaminação do solo, água e do meio ambiente  na fábrica da Shell/Basf em Paulínea/Campinas que teve de ser fechada para não continuar a gerar doentes e mortos devido a contaminação por organoclorados. Mais de 80 trabalhadores morreram desde então e muitos acometidos por câncer - até um dos trabalhadores se suicidou.  Houve uma mobilização intensa dos trabalhadores quimicos de Campinas/Unificados para indenização dos trabalhadores e para desenvolver um amplo trabalho de pesquisa e tratamento dos trabalhadores contaminados.

É desumano e crime hediondo termos a continuidade do trabalho escravo ainda hoje no Brasil! Pior o próprio trabalho escravo utilizar os agrotóxicos  e herbicidas  que contaminam trabalhadores, nossa alimentação ( boi, pastos e diversas produções agrícolas)!!!!!!  A questão, como pessoas amantes do bem e da verdade, é reagir sempre e acompanhar as atividades de mobilização das centrais sindicais e da nossa campanha salarial em curso! Não ao retrocesso, não ao trabalho escravo, e não à continuidade  de qualquer contaminação química! 

Remígio Todeschini

Remígio Todeschini |
Pesquisador de saúde, trabalho e previdência da UNB e assessor da Fetquim-SP