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Mais do que nunca: Vai ter luta!

A democracia é uma conquista, ainda mais no Brasil que tem sua  história marcada por regimes autoritários, com breves intervalos democráticos. 

De 1500 a 1889 o Brasil passou de colônia a império e não preciso explicar muito o quanto autoritário foi esse período, basta mencionar a existem da escravidão. Em 1889 tem início a República (diga-se de passagem, fundada por militares), mas não tinha nada de democrático, São Paulo e Minas se alternavam no governo e os que mandavam eram os coronéis.

Getúlio Vargas já nos anos 30, precisamente em 1937, institui uma ditadura, conhecida como Estado Novo. A ditadura de Vargas terminou em 1945, abrindo o primeiro intervalo democrático no País, para logo em 1964 os militares darem um golpe e iniciar a Ditadura Militar, que durou de 1964 a 1985, embora só em 1989 houvesse a primeira eleição presidencial pós-ditadura.

Em 516 anos de história brasileira, 470 anos, ou seja, mais de 90%, foram de regimes autoritários e 46 anos foram de regime democrático, o maior intervalo de democracia no Brasil é esse na qual estamos vivenciando há 27 anos.

Mas não podemos esquecer aquilo que Lenin (1870 – 1924) já denunciou há muito tempo "é claro que não se pode falar de «democracia pura» enquanto existirem classes diferentes, pode-se falar apenas de democracia de classe", em outras palavras, o que o revolucionário russo esta chamando atenção é que não é possível uma democracia plena em uma sociedade dividida em classes, com interesses antagônicos, ou seja, "A democracia burguesa, não pode deixar de continuar a ser sob o capitalismo estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados, para os pobres."

Porém o próprio Lenin concorda que para a luta dos trabalhadores, a democracia é o melhor ambiente em relação a uma ditadura, por exemplo. Portanto a defesa da democracia, ainda que limitada, se torna necessário para o avanço da luta de classes.

No Brasil estamos exatamente nesse ponto, na defesa da democracia, num país habituado ao autoritarismo. 

A tentativa golpista, financiada pelos patrões,  via Fiesp, de por fim ao governo da Presidente Dilma, utilizando uma artifício constitucional, juntamente com o cerco jurídico e midiático em torno do PT, tem dado munição ao pensamento conservado e autoritário para se expressar mas mais diversas formas.

A invasão da subsede de Diadema do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, pela Polícia Militar, na qual o sindicato permaneceu cercado e os policiais foram embora depois de anotar números de documentos dos participantes da reunião, sem nenhum mandado. Essa mesma polícia que no ato contra o governo federal, batia continência para os manifestantes e permitiu que meia dúzia de pessoas bloqueassem a Avenida Paulista, continua a exterminar os jovens negros nas periferias, a jogar bombas e gás em ato dos professores,  reprimir violenta os que lutam, por mais direitos, terra e moradia.

Os ataques criminosos as sedes do Partido dos Trabalhadores e da União Nacional dos Estudantes,  vem ocorrendo, sem que os culpados sejam identificados e presos.

O simples fato de usar roupas vermelhas ou recursar pegar um panfleto dos amarelos é motivo para ofensas e agressões físicas.

No Rio Grande do Sul uma pediatra deixou de atender uma criança,  porque a mãe é filiada ao PT.

O jornalista Juca Kfouri foi atacado e ofendido pelo fato de ser contra o impeachment,  assim como diversos outros intelectuais e artistas estão sendo perseguidos por conta dos seus posicionamentos em defesa da democracia.

A tentativa de criminalizar Guilherme Boulos do MTST, pelo simples fato dele declarar que haverá resistência.

Combater o  conservadorismo que é antidemocrático e autoritário é parte da luta, assim como dizer que não vai ter golpe e também que não queremos retirada de direitos e nem ajustes fiscal.

Como bem escreveu Herbert Marcuse (1898 – 1979) nos "dias atuais, em que a própria irracionalidade se converteu em razão, seu único modo de ser é a razão da dominação e da repressão inclusive quando os dominados colaboram com ela. E, em toda parte, ainda há aqueles que protestam, que se rebelam, que combatem."

Ainda somos aqueles que continuaremos nas ruas a protestar e se rebelar e a combater,  o autoritarismo,  defender a democracia, contra o ajuste fiscal, a reforma da previdência e toda e qualquer forma de retira de direitos.

Mais do que nunca: Vai ter luta!

Paulo Soares

Paulo Soares |
Membro da direção da Fetquim