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Equívoco da Industria Quimica

 

A economia do Brasil atravessa uma forte recessão e a produção industrial no Estado de São Paulo está em queda acentuada. No acumulado de janeiro a abril, a retração é de 7,1%; a fabricação de veículos caiu 15,5% no ano, contribuindo para quedas nos principais segmentos da indústria química paulista: -3,7% de redução na produção de artefatos de plástico e borracha; -12,1% de queda na indústria farmacêutica; e -7,5% na fabricação de outros produtos químicos.

A decisão de retrair a produção é equivocada porque o “Estudo do potencial de diversificação da indústria química brasileira”, realizado para o BNDES pelo consórcio de consultorias especializadas Bain & Company e Gas Energy, publicado em 2014, estima que a demanda local para as Poliamidas especiais (em que se insere o Náilon “6”) deve crescer 2,4% ao ano até 2020, impulsionado pelas indústrias automotiva e têxtil.

Da mesma forma, a produção de plásticos de engenharia apresenta grande potencialidade no País, dada a relevância do mercado consumidor interno, formado basicamente pela indústria automotiva e pelas novas utilizações que serão demandadas para, por exemplo, atender às exigências de resistência para a exploração de petróleo e gás nas reservas da camada do pré-sal. Mesmo assim grandes corporações estão encerrando processos produtivos no Pais para aumentar as importações de suas matrizes.

Nunca é demais lembrar que as corporações químicas estrangeiras instaladas no Brasil remeteram para suas matrizes, a título de lucros e dividendos, 554 milhões de Dólares entre janeiro e abril deste ano. No ano passado, as remessas somaram 2,1 bilhões de Dólares. Se somarmos os valores remetidos a título de amortizações de empréstimos feitos pelas filias com as matrizes, estes números saltam para 1,5 bilhões de Dólares nos quatro primeiros meses deste ano e 5,2 bilhões de Dólares ao longo de 2014.

Criticamos os grandes grupos econômicos (Transnacionais) também por descumprir aspectos cruciais das “Diretrizes da OCDE para as Empresas Multinacionais” – da qual o Brasil é País aderente.  

Especificamente, no “Capítulo V. Emprego e Relações Empresariais”, o item 6, que transcrevemos a seguir: “Ao preverem mudanças de atividades que possam ter grandes efeitos sobre o emprego, em particular no caso de encerramento de uma entidade acompanhado de dispensa ou despedida coletiva de empregados, notificar essas mudanças com antecedência razoável aos representantes dos trabalhadores sob seu emprego e suas organizações e, quando apropriado, às autoridades governamentais competentes, e cooperar com os representantes dos trabalhadores e as autoridades governamentais apropriadas para mitigar tão amplamente quanto praticável os efeitos adversos. À luz das circunstâncias específicas a cada caso, seria oportuno que a direção comunicasse esta informação antes que fosse tomada a decisão final. Outros meios também podem ser utilizados para favorecer uma cooperação significativa com o objetivo de mitigar os efeitos de tais decisões.”

Temos exemplos em diversas iniciativas na região do ABC para aprofundar o conhecimento sobre os desafios da indústria química brasileira e elaborar propostas para que seu desenvolvimento seja, de fato, sustentável em termos ambientais, econômicos e trabalhistas. Por exemplo, o ciclo de debates e seminário internacional “A Indústria Química em 2020: um novo rumo é possível”, que realizamos entre junho e setembro de 2011, e a atuação no Grupo de Trabalho da Indústria Química da Região do ABC (GT QUÍMICO), a partir de seu lançamento, em maio de 2014, por iniciativa do Sindicato dos Químicos do ABC, conjuntamente com as Prefeituras de Mauá, Santo André, São Bernardo do Campo, do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, e com apoio do CIESP Santo André, da Agência de Desenvolvimento Econômico Grande ABC e da Braskem.

Estamos utilizando todos os instrumentos ao nosso alcance para defender os empregos e os direitos dos trabalhadores. Já realizamos assembléias e paralisações na unidade da BASF e estamos agendando audiência com o Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto.

Estas iniciativas, bem como o apoio que conferimos à Política Industrial do Governo Federal, queremos discutir a política nos estado que fundamentam nossa ação diante desta inoportuna e equivocada posição de algumas empresas e grupos  que ameaça o emprego e pode comprometer ainda mais o crescimento industrial no estado de São Paulo e no Brasil.

 

 

 

Airton Cano

Airton Cano |
Coordenador Político da Fetquim