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As maiores fabricantes de tintas colocam o lucro acima da vida

A Sherwin-Willians (SW) e a PPG estão dizendo que não tem condições financeiras de manter o salário de seus trabalhadores durante a pandemia. Por isso estão promovendo reduções salariais e demissões em suas plantas localizadas em Sumaré – SP.

De fato, a pandemia tem provocado recessão econômica seja como efeito colateral do necessário isolamento social, seja como efeito das mortes que o vírus provoca. Por isso várias empresas estão vendo suas vendas caírem. Com menores vendas, estão sem condições de pagar salários. Mas será que este é o caso da SW e da PPG?

SW e PPG são as duas maiores fabricantes de tintas do mundo. Juntas são responsáveis por um quarto de toda produção mundial de tintas e vernizes. No ano passado a SW faturou 17,9 bilhões de dólares das quais obteve um lucro de 2 bilhões e 900 milhões de dólares. Neste ano, entre janeiro e março, a empresa faturou 4 bilhões 146 milhões de dólares, um crescimento de 2,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro (EBITDA) da empresa foi de 623 milhões de dólares neste trimestre, 8,3% a mais do que no ano anterior. Resumindo, a empresa tem obtido até março deste ano resultados extremamente positivos e tem caixa suficiente para suportar alguns meses de queda no faturamento. O que ela está fazendo com toda essa lucratividade?

No mesmo relatório a empresa anuncia que no primeiro trimestre de 2020 elevou os dividendos por ação em 18,6% e usou seu caixa para comprar 1 milhão e setecentas mil ações no mercado. Ou seja, já no meio da pandemia a empresa está usando os lucros obtidos através do empenho dos trabalhadores para aumentar a distribuição aos acionistas e aumentar sua própria posição nas ações em poder do mercado. Ainda assim, a empresa informou que tem em caixa quase 2,5 bilhões de dólares para utilizar no curto prazo. Recursos mais que suficientes para manter o salário de seus trabalhadores durante o período de queda no faturamento que poderá vir com a pandemia. Mas em vez disso tem promovido cortes salariais através da pressão individual, sem negociar com o sindicato.

O mesmo ocorre com a PPG, sua principal concorrente na disputa pelo mercado mundial e segunda maior fabricante de tintas. A empresa anunciou que havia acumulado até abril deste ano 2 bilhões e 600 milhões de dólares em caixa para utilizar no curto prazo. Mostrando que tem fôlego financeiro sim para suportar a queda de faturamento temporária. A empresa anunciou inclusive que nesse ano já distribuiu 160 milhões de dólares na forma de dividendos ou ganho de capital. Para os trabalhadores, no entanto, a empresa está distribuindo demissões e cortes salariais de forma individual, sem sequer ter coragem para negociar com o sindicato.

Em nossa opinião, as grandes multinacionais têm caixa suficiente para suportar a queda temporária nas receitas sem precisar reduzir os salários daqueles que dedicam suas vidas pela empresa. Mas a ganância e mesquinhez de seus gestores e acionistas estão colocando o lucro acima de tudo, inclusive acima da vida dos seus próprios trabalhadores.

Vitor Hugo Tonin

Vitor Hugo Tonin |
Economista do Sindicato dos Químicos Unificados