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Carta da Direção Nacional do MST ao Povo Sem Terra do Rio Grande do Sul

Camaradas,

Afirmamos que “a solidariedade é a ternura dos povos” porque este valor é também um dos mais profundos sentimentos de humanização em coletividade, que inspiram verdadeiras transformações. O mundo está comovido com as tragédias recentes que o povo do Rio Grande do Sul tem vivido. E conosco, no MST, não poderia ser diferente. Quando tomamos a decisão de adiar o VII Congresso Nacional do MST, nossas reflexões passaram necessariamente pela compreensão de que todo nosso esforço precisa ser dedicado à reconstrução das nossas conquistas. Ver as imagens da destruição, mas também ver, prontamente, a organização das cozinhas, a arrecadação financeira, a doação de comida e agasalhos com a nossa base e com o conjunto da sociedade nos motivou mais do que nunca, a querer estar presencialmente com vocês. E estaremos. Queremos então partilhar que assim que anunciado publicamente nossa decisão, recebemos inúmeras manifestações reconhecendo a importante e coerente posição, que contagiou nossa delegação de convidados internacionalistas a virem para Brasil, não mais para o congresso, mas para compor a nossa Brigada Nacional de Reconstrução. Segue algumas destas mensagens internacionalistas:

“Caros militantes do MST, sentimo-nos emocionados e orgulhosos por tão grande e nobre decisão, sem dúvida que nos momentos mais críticos de solidariedade e de necessidade urgente de aprofundar a análise política, o momento exige o enfrentamento desta extrema ofensiva. do sistema capitalista que levou a ação criminosa contra as pessoas e o planeta ao extremo máximo.”

“Coincidimos todes que es una decisión del tamaño de la coherencia de siempre del MST.”

“Perante a catástrofe que se abateu sobre o Povo do Rio Grande do Sul, as vidas ceifadas, a destruição do trabalho de vidas inteiras de numerosas famílias, partilho convosco estes tempos de dor e luto e expresso a minha profunda e sincera solidariedade.
Só um Movimento como o MST, com a superioridade moral conferida pelos inquebrantáveis princípios de solidariedade revolucionária é capaz de colocar o interesse colectivo do Povo acima dos seus próprios interesses e decidir pelo adiamento do 7º Congresso.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul e vai acontecendo por esse mundo fora, cada vez com mais frequência e gravidade, não é castigo dos céus, é consequência do carácter predatório do capitalismo e do imperialismo, que tudo sacrifica para acumulação de riqueza e poder.
Mas sabemos que a luta do povo será vitoriosa, como tão bem escreveu o poeta da Revolução dos Cravos, Ary dos Santos:

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente

Abraço solidário,
Alfredo Campos”.

 

Hoje a Direção Nacional do nosso movimento gostaria de estar mais perto e dizer a vocês, povo Sem Terra riograndense, dos nossos assentamentos e acampamentos da Reformas Agrária, da militância, da direção estadual e em especial aos nossos camaradas de instância Salete, Miguel e Maurício que estão também empenhados, com todas as forças, e toda responsabilidade, em acolher as famílias atingidas e reconstruir o que perdemos nos últimos dias. Nosso coração está com vocês e a nossa ousadia rebelde também, por isso, concordando com Che, de que um revolucionário é movido por profundos sentimentos de amor, é que nós sabemos que temos o compromisso histórico de responsabilizar os destruidores da natureza, da vida e dos sonhos. De dizer à sociedade que as catástrofes são consequências dos crimes ambientais do agronegócio e do projeto destruidor do capital. Nos comprometemos a denunciar e lutar para transformar em ação revolucionária essa tragédia que não veio das mãos do povo, em colocar à disposição nossas mãos, nossos saberes, nossa organização coletiva para reconstruir nossas estruturas pautando um novo modo de produzir e existir. Nos comprometemos, de forma ainda mais urgente, a sobretudo apontar o capitalismo e o agronegócio como inimigos da humanidade. 

Queremos abraçá-los e abraçá-las, camaradas. Estaremos juntos e fortes em cada etapa desse grande desafio. Queremos reconhecer a resiliência gigante desse povo em luta pela vida. Queremos nos somar na dor, mas sobretudo no ato de sonhar uma vida livre e digna para todos nós.

Desejamos nos encontrar muito em breve nas fileiras, companheirada. Seguimos firmes na luta, inspiradas e inspirados pela grande solidariedade Sem Terra. Avante! 

 

Escola Nacional Florestan Fernandes
18 de maio de 2023

Lutar, Construir Reforma Agrária Popular! 

MST

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