O salário médio por hora de um trabalhador chinês do setor industrial já supera o do seu equivalente no Brasil, de acordo com dados da consultoria Euromonitor publicados pela revista Exame.
O salário do chinês triplicou de 2005 para 2016 de US$ 1,20 para US$ 3,60 por hora, e hoje supera o de todos os países da América Latina, com exceção do Chile.
Também já se aproxima do valor por hora de trabalho na indústria de países europeus como Romênia (US$ 3,70) e Portugal (US$ 4,50).
“A China não é mais um país de baixo custo ou um destino majoritário de transferência de produção para quem quer apenas gerar margem com baixa remuneração da força de trabalho”, diz Marcos Troyjo, diretor do BRIClab da Universidade de Columbia.
Enquanto isso, o salário do brasileiro na indústria caiu na última década de US$ 2,90 para US$ 2,70, o mesmo patamar da Rússia e abaixo da África do Sul (US$ 3,60).
Vale notar que o setor de serviços já passa de 70% da economia brasileira enquanto o PIB industrial perdeu importância relativa nas últimas décadas.
Os dados são da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Eurostat (agência de estatísticas da União Europeia) e de órgãos estatísticos nacionais, convertidos para dólar e ajustados pela inflação mas não pelo custo de vida.
O fator câmbio também puxa a China para cima já que sua moeda se valorizou nos últimos anos, enquanto a de países latino-americanos como Argentina, Brasil e México sofreram depreciação.
“Também é importante notar que os números da Euromonitor são no setor de indústria e não serviços, onde tenho impressão que os salários na América Latina seriam mais altos”, diz Troyjo.
Desmistificando
Na China, a alta dos salários industriais é um reequilíbrio inclusive intencional, já que por muito tempo o PIB cresceu mais do que os salários e agora é necessário aumentar a fatia de consumo para que a economia não dependa tanto de investimento pesado.
O processo já havia sido notado por um estudo publicado pelo consultoria Boston Consulting Group em 2014 que englobava vários fatores de produção:
“Quem pensaria há uma década atrás que o Brasil seria hoje um dos países de mais alto custo para a manufatura e que o México seria mais barato que a China?”, dizia um trecho.
No Brasil, trabalhadores foram incorporados ao mercado, o câmbio valorizou e o salário mínimo subiu, mas a falta de produtividade para sustentar os ganhos eventualmente ficou evidente.
Já na China, o processo pode continuar na medida em que o país segue tendo sucesso em incrementar o componente tecnológico dos produtos produzidos em seu território, como mostra por exemplo a alta no número de patentes registradas.
Ao mesmo tempo, o país transfere para os vizinhos asiáticos suas indústrias de menor valor agregado, como plásticos e têxteis, da mesma forma como foi feito com ela no passado.
No longo prazo, a dúvida maior é até que ponto a alta dos salários é sustentável diante do avanço da robótica, que ameaça empregos na indústria mesmo em países que tentem medidas protecionistas.
“Se o presidente Trump de fato pressionar as empresas para que coloquem mais produção nos EUA, então aqueles especializados em robótica e automação provavelmente serão os vencedores. As empresas não vão automaticamente empregar mais americanos. Elas vão repensar suas estratégias e algumas delas vão inevitavelmente olhar para a automação como uma forma de evitar os custos mais altos de empregar trabalhadores americanos”, diz artigo do britânico Paul Diggle, economista-sênior da empresa de gestão de ativos Aberdeen, publicado recentemente em EXAME.com.
Veja a seguir o salário industrial por hora em 2005, 2010 e 2016 em 10 países selecionados:
Em US$ | 2005 | 2010 | 2016 |
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Brasil | 2,90 | 2,70 | 2,70 |
China | 1,20 | 2,20 | 3,60 |
Índia | não disp. | 0,80 | 0,70 |
Argentina | 2,10 | 2,00 | 2,50 |
Chile | 2,80 | 4,50 | 5,00 |
México | 2,20 | 2,00 | 2,10 |
Colômbia | 1,40 | 1,70 | 1,70 |
Canadá | 18,00 | 19,10 | 19,10 |
Dinamarca | 40,20 | 44,30 | 46,40 |
Espanha | 16,60 | 17,80 | 17,90 |