Fonte: Agência O Globo
A demora na decisão de uma batalha judicial, que se arrasta há mais de dez anos, envolvendo ex-trabalhadores da Shell e da Basf e o Ministério Público do Trabalho de Campinas, no interior de São Paulo, já deixou 59 mortos — dois há 15 dias —, todos contaminados por substâncias cancerígenas na área onde trabalharam e funcionou a fábrica de agrotóxicos das duas empresas entre 1977 e 2002. O terreno fica no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia, interior de São Paulo.
Um parecer técnico encomendado pela Promotoria de Justiça concluiu que houve “negligência, imperícia e imprudência” da Shell e das outras empresas que a sucederam na área no caso da contaminação da fábrica e dos terrenos vizinhos. A briga trabalhista dos ex-empregados é para garantir um plano de saúde que cubra despesas médicas com as doenças que surgiram depois de anos de contato com produtos químicos para produção de agrotóxicos.
Até agora, 785 pessoas garantiram o direito de cobrar dos ex-empregadores gastos com tratamento médico. Em 2010, a Justiça condenou a Shell e a Basf a custear totalmente as despesas médicas, laboratoriais e hospitalares dos ex-funcionários e de seus parentes, além de terceirizados que prestaram serviços à fábrica. À época, as empresas também foram condenadas a pagar multa de R$ 622 milhões por danos à coletividade e R$ 64,5 mil de indenização a cada um dos cerca de 600 ex-trabalhadores e seus filhos. As empresas derrubaram a multa e recorrem do pagamento de despesas médicas.
A história da contaminação começou com a compra de uma área de 400 mil metros quadrados em 1974, no então bairro Poço Fundo. A escolha do local não foi aleatória: vista de cima, a área se parece com a concha que simboliza a empresa. A fábrica, apesar dos protestos contra a sua instalação, começou a funcionar em 1977, com 191 funcionários. Em 1992 foi vendida para a multinacional Cyanamid que, em 2000, repassou-a à Basf. Desde antes da primeira venda a fábrica já colecionava denúncias de contaminação pelo forte odor no ar e na água, que causava mal-estar físicos e gástricos em funcionários e vizinhos.