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17 de Novembro de 2020

Reindustrializar o Brasil é prioridade e exige unidade da classe trabalhadora 


Escrito por: CUT


CUT

“A principal pauta da classe trabalhadora hoje é a reindustrialização do país. Sem uma indústria forte, nenhuma nação consegue se desenvolver, gerar empregos de qualidade e dar um padrão de vida decente ao seu povo”, diz o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre.

O dirigente da central aponta a importância da criação da IndustriAll-Brasil,organização recém-fundada pela união da CUT e Força Sindical, por meio de seus entes filiados que representam os trabalhadores e trabalhadoras nos ramos da indústria (Metalúrgico, Químico, Construção Civil, Alimentação, Energia e Têxtil-Vestuário).

Inspirada no modelo da IndustriALL-Global Union, entidade que representa 50 milhões de trabalhadores em mais de 140 países e à qual CUT e a Força são filiadas, a IndustriAll-Brasil foi fundada para fomentar e criar propostas e projetos de políticas para reindustrializar o país à luz das demandas da classe trabalhadora.

A seguir, Sérgio Nobre conta um pouco de como e porque surgiu o projeto e destaca que a entidade está aberta a todas as organizações de trabalhadores e trabalhadoras do setor da indústria, no Brasil inteiro, inclusive as que não são filiadas a nenhuma central sindical. O potencial é enorme: são 18 milhões em todo o país, dos quais 10 milhões já são da base da CUT e da Força e, agora, também da IndustriAll-Brasil.

PAUTA PRIORITÁRIA

O que levou a CUT e a Força Sindical, as duas maiores centrais sindicais do país (somam 5,7 mil sindicatos e entes e 37,8 milhões de trabalhadores na base), foi a consciência de que a principal pauta da classe trabalhadora hoje é reindustrializar o país. Nenhuma nação do mundo conseguiu dar um padrão de vida decente para o seu povo sem ter uma base industrial muito forte. O Brasil vem se desindustrializando há mais de 30 anos e chegou em um momento dramático.

"Esse processo de reindustrialização precisa da unidade de todos. CUT e a Força Sindical já estão juntas, representadas, na IndustriAll Global Union, que reúne o setor da indústria. E diante dessa pauta, decidimos criar a IndustriAll-Brasil", explica ele.

DESAFIO DA MODERNIZAÇÃO

A IndustriAll-Brasil terá um enorme desafio porque o governo Bolsonaro é um anti-indústria, antipaís, com uma visão de dependência em relação aos países centrais.

"O desafio maior não será somente reindustrializar o país, mas fazer a renovação, porque o Brasil tem uma indústria muito velha, ainda da época da segunda revolução industrial. Tem de haver a reindustrialização com uma indústria nova, 4.0, com inovações.
Isso torna o desafio ainda maior, daí a necessidade de todos os segmentos da indústria se juntarem nesse propósito, ter uma pauta única, ter mobilização nacional para convencer a sociedade brasileira de que nós não podemos perder mais indústrias, mas não essa indústria que está aí, do passado, e sim uma mais moderna", afirma Sérgio Nobre.

ABERTA A DEMAIS CENTRAIS

CUT e Força se uniram para a criação da IndustriAll-Brasil porque as duas centrais já vivem a experiência da unidade no âmbito internacional. Na IndustriALL Global Union (que representa 140 organizações sindicais e 50 milhões de trabalhadores em todo o mundo), estão juntas, têm compreensão maior e facilidade para construção da IndusriAll-Brasil, que se inspirou na Global, mas não é sua “filial”.

As demais centrais sindicais brasileiras também têm base industrial importante, por isso é claro que a IndustriAll-Brasil está aberta para receber todas as organizações de trabalhadores que fazem parte da indústria e que queiram integrar o projeto, inclusive aquelas que não são ligadas a nenhuma central. 

"O “All” da IndustriAll-Brasil significa todos. É isso, o projeto está aberto a todos, independentemente de estarem filiados a uma central sindical", explica ele.

18 MILHÕES DE TRABALHADORES

O Brasil tem hoje 18 milhões de trabalhadores e trabalhadoras na indústria, 19% do total do país, segundo o Dieese. Como a IndustriAll-Brasil nasce com a missão de fazer propostas e projetos de políticas industriais, por meio das organizações que representam trabalhadores desse segmento, esse é o potencial que que nós queremos atingir em um futuro breve: 18 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, e ampliar, pois com uma indústria fortalecida e renovada conseguiremos gerar empregos de qualidade.

A QUE PONTO CHEGAMOS

A desindustrialização começou nos anos 1990. A abertura econômica feita sem nenhum critério, da noite para o dia, fez o Brasil ser  inundado por produtos importados, ante uma indústria nacional que não teve tempo de se preparar para competir.

As indústrias brasileiras que existiam naquele período foram fechadas ou compradas pelas multinacionais, que não têm sede no Brasil e nunca tiveram interesse em produzir aqui ou transferir tecnologia. São empresas que querem produzir e deter tecnologia na sua matriz, enquanto nos países satélites, colocam produção de baixa tecnologia, desde que haja mão de obra barata.

Essa é a dificuldade, nós não termos empresas multinacionais que impulsionem o desenvolvimento. O que temos são as estatais brasileiras, em especial a Petrobras, que, sozinha, garante sete de cada reais investidos no país e, apesar dessa importância, a Petrobras enfrenta o risco de ser privatizada pelo governo Bolsonaro.

"Não temos aqui os instrumentos para reindustrialização do país, como têm os Estados Unidos, a China, a Alemanha, que possuem grandes empresas nacionais.O Brasil, repito, tem multinacionais que não têm interesse em produzir aqui. Quem tem interesse de reindustrializar o Brasil é a classe trabalhadora, por isso, nós só vamos reindustrializar país se for através da luta dos trabalhadores".

GANHAR OPINIÃO PÚBLICA

Precisaremos ganhar o debate na sociedade para deixar claro a todos os brasileiros que o país perdeu sua indústria e que está se desindustrialização, temos de mostrar as  consequências dessa desindustrialização, porque o apoio popular é de fundamental importância.

A primeira coisa que precisamos fazer é um grande estudo sobre a real situação da indústria brasileira, dos empregos e preparar um grande projeto, via Congresso Nacional, para tomar medidas que possam fortalecer a indústria; retomar o Ministério da Indústria e do Comércio, que é estratégico para o país, não deixar privatizar as estatais, que será uma briga importante, porque Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, BNDES são estratégicos, são instrumentos de desenvolvimento. Temos de ganhar a opinião pública, esses são os desafios para reverter a curva de fechamento de empresas no Brasil.

APERTAR PARAFUSO, NÃO

Nos governos Lula e Dilma, a política de conteúdo nacional foi muito importante, mas sofreu fortes restrições das multinacionais. O Brasil foi acionado na OMC (Organização Mundial do Comércio) por conta disso, sob alegação de que o país estava protegendo os mercados, sofreu uma ação porque as multinacionais não querem transferir tecnologia para o Brasil, fazem apenas trazer produtos em caixa para montar aqui.

Sob o governo ilegítimo de Temer e agora com Bolsonaro, essas multinacionais ficaram livres para importar.

A pandemia mostrou a consequência da falta de política desses dois presidentes, culminando em um exemplo negativo muito claro: o Brasil mandou a indústria de equipamentos de saúde para China sob a alegação de que comprar daquele país ficaria 30% mais barato do que produzir aqui, com isso, destruímos essa indústria de saúde no Brasil e quando chegou a pandemia, não tínhamos capacidade de produzir máscaras, respiradores etc. A sociedade toda viu o quanto essa opção foi errada.

"Setores estratégicos têm que permanecer no país, tecnologia tem que vir para cá. Não podemos só abrir caixas e apertar parafusos tem haver engenharia no Brasil. Para isso, travaremos uma briga de gente grande com as multinacionais", afirma Sérgio Nobre.