Fonte: Agência Brasil
A superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KCP) é uma das grandes preocupações nacionais recentes na área de saúde. Não existe ainda uma informação oficial para a causa da proliferação da bactéria no país, mas, para alguns especialistas, como o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marco Antônio Cyrillo, uma das preocupações centrais é o uso indiscriminado de antibióticos.
"O uso de antibióticos nas unidades de Tratamento Intensivo [UTIs] em pacientes com imunossupressão [com o sistema imunológico debilitado] é o principal fator para que as bactérias apareçam", afirma. Cyrillo explica que os antibióticos matam as bactérias sensíveis e as que sobrevivem transmitem para as gerações futuras os genes de resistência até criar uma bactéria super-resistente.
A enfermeira do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Isabela Rodrigues confirma que existe o uso abusivo de antibióticos. "O acesso ao antibiótico na própria comunidade é muito fácil e o uso contínuo começa a afetar o organismo. Quando a pessoa precisa se internar já adquiriu resistência e nem todo antibiótico vai tratar sua doença. Na assistência hospitalar, também ocorrem abusos", destaca.
De acordo com a professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Cristina Gales, a carbapenemase é a enzima produzida pela bactéria que a torna capaz de inativar os antibióticos betalactâmicos, incluindo os carbapenens, considerados os antimicrobianos mais potentes para o tratamento de infecções graves. "O paciente pode ter a bactéria colonizada ou estar infectado e desenvolver algum tipo de infecção como pneumonia, meningite, na corrente sanguínea, ou mesmo no local da cirurgia", diz a professora.
Segundo Isabela Rodrigues, o tratamento para combater a KPC, nos hospitais, é normalmente feito com a associação de três antibióticos: polimixina B, tigerciclina e amicacina. Se o uso abusivo dos antibióticos pode ser a causa do surgimento das bactérias, a falta de uso de materiais de higiene médico-hospitalar básicos como luvas, máscaras, álcool e a ausência da prática de hábitos, como o de lavar as mãos após o contato com pacientes, são apontadas como fatores que podem explicar a proliferação do micro-organismo.
A transmissão ocorre por meio do contato direto entre as pessoas ou pelo uso de um objeto comum. Por isso, o presidente da SBI destaca medidas importantes a serem tomadas. "A qualificação dos profissionais de saúde, o número adequado de profissionais atendendo, a conscientização de que eles podem servir como vetor de contaminação, além de bons laboratórios para identificar a bactéria são fundamentais para se controlar a KPC", enumera Cyrillo.
A higiene não deve ser esquecida também por quem visita pacientes internados nos hospitais. Após o contato com a pessoa internada, é importante lavar as mãos com sabonete e utilizar álcool em gel, conformem orientam os especialistas.
Atualmente não existe um diagnóstico sobre a expansão da contaminação pela KPC no país. Os registros oficiais ainda estão restritos ao Distrito Federal, com 183 casos e 18 mortes, e aos estados do Paraná, com 24 casos; da Paraíba, com 18; do Espírito Santo, com três; de Minas Gerais, com 12; de Santa Catarina, com três; de Goiás, com quatro; e de São Paulo, com 70 casos e 24 mortes. Os dados são da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das secretarias estaduais de Saúde.
"É importante que haja uma rede de segurança mais efetiva para que tenhamos dados dos municípios, estados e em nível federal, não só desta bactéria, mas de outras bactérias. É uma política de prevenção conhecer a realidade nacional", enfatiza Cyrillo.
Para conter a avanço da contaminação, a Anvisa anunciou na última semana (22) a obrigatoriedade da instalação de dispensadores de álcool em gel nos hospitais e clínicas públicas e particuladres. A agência vai publicar resolução tornando mais rígida a venda de antibióticos no país, sendo que uma via da receita médica deverá ficar retida na farmácia.