Foi lançado no último sábado (20/07), no Cefol Campinas, o livro “Os desafios da inclusão: informações e desafios de PcDs químicos”, dos autores Douglas Ferreira e Remígio Todeschini, fruto de pesquisa inédita conduzida pela FETQUIM para conhecer a realidade das pessoas com deficiência no ramo químico (leia detalhes aqui).
“Este livro não é de autoria minha e do Douglas. Este livro é a voz das pessoas com deficiência no ramo químico empregadas e desempregadas”, resumiu Remígio Todeschini, diretor de Tecnologia e Conhecimento da Fundacentro.
Leandro de Oliveira, trabalhador da Colgate e conselheiro municipal de PCds de Mauá, participou da pesquisa e deu um exemplo claro de uma situação que dependia apenas de um PCD ser ouvido: “Esse trabalhador surdo ia ser demitido por se atrasar no trabalho. Ao conversarmos com ele descobrimos que ele não conseguia acordar cedo, pois despertador não adianta, e não havia ninguém para acordá-lo. Então conseguimos fazer com que ele passasse para o turno da tarde e ficou tudo certo”.
No caso dos surdos, geralmente escolhidos pelas empresas para preencher a lei de cotas, é necessário que eles recebam orientações claras em libras e tenham interlocutores formados em libras – algo simples que pode ser previsto nas convenções coletivas de diversas categorias.
Carlos Alberto, trabalhador da Syngenta e diretor dos Químicos Unificados, relatou a luta de três anos que travou com a empresa para conseguir que o ônibus fretado passasse mais perto de sua casa. "Tive que fazer vídeos mostrando a dificuldade de acesso nas vias públicas e a minha própria dificuldade de mobilidade pela deficiência que tenho na perna". "Para a empresa era símples desviar algumas ruas e para mim foi essencial", revelou.
"Soluções simples como estas só dependem de uma ação concreta e direta dos sindicatos para ouvir e conhecer a realidade das pessoas com deficiência em seus ambientes de trabalho. Por isso a nossa iniciativa aqui na FETQUIM é o primeiro passo para que esse tema de inclusão seja pauta do movimento sindical", explicou André Alves, secretário de Saúde da Fetquim.
Sementes
“Buscamos por meio dessa pesquisa chamar atenção do meio sindical em geral para a construção de políticas públicas de inclusão, esperamos ter lançado esta semente para que outras categorias também deêm voz às pessoas com deficiência”, ressaltou Amábile Cordeiro, secretária de Políticas Sociais da FETQUIM.
Carlos Aparício Clemente, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, veio se somar à luta e parabenizou a FETQUIM pela iniciativa. O Sindmetal de Osasco é um dos poucos sindicatos a ter cartilha sobre inclusão de pessoas com deficiência. “Ainda estamos engatinhando na questão dos PCDs. A primeira multa no Brasil por descumprimento da lei de cotas foi em 2003, em Osasco, quase 12 anos depois do surgimento da lei de cotas, que é de 1991”, afirmou.
O professor e médico, Roberto Ruiz, destacou a agressividade dos ambientes de trabalho para com as pessoas com deficiência e afirmou que “colocar um PCD no mesmo ambiente que os demais, sem as devidas adaptações ergonômicas, de máquinas e até softwares, e exigir a mesma produtividade é assédio”.
Douglas M. Ferreira ( Dieese), destacou que ainda há muito para ser ouvido e estudado sobre as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, ainda mais se considerarmos a ampla variedade de tipos de deficiência.
Em seguida à apresentação da pesquisa foi aberto um espaço de diálogo entre os autores e o público.
Os interessados podem fazer o download do livro aqui.