A participação efetiva das mulheres na política, de modo a ocupar cargos públicos e trabalhar para o bem comum, exige uma mudança profunda de mentalidade e comportamento – a começar pelos partidos políticos. Concorrer a um cargo eletivo apenas para cumprir com a cota partidária exigida em lei não é o que elas querem.
“Ainda hoje, nos partidos, o pensamento dominante é que política não é lugar de mulher. Os partidos são redutos machistas, estamos num ambiente onde a desigualdade de gênero, do espaço público e privado é que tem definido o lugar das mulheres na política e este caminho só muda se houver igualdade de oportunidades”, explica Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão.
Convidada do Seminário Mulheres em Defesa da Democracia, dos Direitos e por mais Participação na Política, promovido no último sábado (01/09), no Sindicato dos Químicos de SP, com o apoio da Fetquim/CUT, Jacira explica que o Instituto Patrícia Galvão discute a defesa da cota mínima de mulheres nas eleições e a obrigatoriedade de os partidos preencherem seus quadros com 30% de candidatas, mas ela diz que esse porcentual poderia ser menor, 15%, desde que fosse de fato e não de "mentira" - com candidaturas femininas sem apoio.
“É preciso ter apoio financeiro de campanha, combustível para se deslocar, materiais de divulgação, apoio efetivo dos partidos políticos para alavancar candidaturas de mulheres”, explica Jacira.
Eliane Dias, uma das principais vozes na defesa das causas negra e feminina do Brasil, advogada e empresária do Racionais MC’s, concorda. “Não aceitei ser candidata por nenhum partido para não compactuar com isso, enquanto meu povo não decidir, eu não entro”, afirmou ela, que é esposa de Mano Brown.
Rosângela Paranhos, secretária da Mulher Trabalhadora da Fetquim, também compartilhou da mesma problemática. “Eu já fui convidada a me candidatar várias vezes e eles me disseram ‘a gente até imprime um santinho para você’ mas desse jeito, sem apoio de fato, só para ser laranja, para cumprir cota, eu não quero”, relatou.
Lucineide Varjão Soares, presidenta da CNQ/CUT, lembrou que "votar é um direito, mas ser votada também é".
“A gente reproduz o machismo porque entre nós a gente não empodera as mulheres. Chega de cota de mentira!”, finalizou Junéia Martins Batista, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT nacional.
A atividade foi promovida pela CNQ-CUT, Fetquim/SP, Sindicato dos Químicos de São Paulo e o Sindicato dos Químicos do ABC.