Patrícia Pelatieri, coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), explica o desastre que a reforma da Previdência pode representar, sobretudo para as mulheres. “Juntando o trabalho produtivo com o trabalho reprodutivo, as mulheres trabalham, em média, oito horas a mais do que os homens. Isso é uma média geral para as realidades do campo ou da cidade".
Seguindo a conta, "a cada ano, as mulheres trabalham 73 dias a mais do que os homens, ou seja, um pouco mais do que dois meses. Ao final de 30 anos de trabalho, as mulheres terão trabalhado oito anos a mais do que os homens. É uma conta simples. Então essa diferença de cinco anos que temos hoje no acesso à aposentadoria é bastante razoável, contemplando de alguma maneira esse trabalho reprodutivo. E isso tem a ver também com políticas públicas, ou seja, creches, escolas, o cuidado com os idosos”, afirma.
As mulheres, especialmente as mulheres camponesas, sofrerão os maiores impactos na modificação dos critérios para o acesso aos benefícios da Previdência, segundo ela.
Além disso, a especialista aponta os efeitos indiretos, mas igualmente perigosos, caso a medida seja aprovada: o aumento do êxodo rural, o empobrecimento massivo e redução drástica da produção de alimentos do país.
“A perda é imediata para todo o mundo porque a grande maioria dos contribuintes está fora da transição, os trabalhadores rurais não ficarão no campo se não houver expectativa de aposentadoria rural, a perda do valor das remunerações chega a 40% para as mulheres com muito mais tempo de trabalho e contribuição”.
Isso sem contar que com as pessoas trabalhando até morrer (sem conseguir se aposentar) e os benefícios previdenciários encolhidos, como auxílio-doença, quem é que vai cuidar dos doentes e idosos em casa? "E claro que é a mulher", lembra Patrícia.
As declarações foram realizadas durante Seminário sobre Previdência e Aposentadoria Especial da Fetquim, realizado no dia 5 de junho de 2018.