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24 de Agosto de 2018

Grevista de fome passa mal durante ato inter-religioso em frente ao STF


Escrito por: Agências


Agências

Zonalia Santos, uma das sete grevistas de fome por justiça no Supremo Tribunal Federal (STF), passou mal durante ato inter-religioso, realizado terça-feira (21). A grevista apresentou uma hipotensão postural acentuada e foi acometida por uma síncope, perdendo os sentidos, explica Ronald Wolff, médico popular que acompanha os grevistas. 

Zonalia foi atendida, num primeiro momento, pela equipe médica que acompanha a greve e, logo em seguida, pelos paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Segundo Wolff, os primeiros socorros prestados pela equipe médica da greve ajudou que a Zonalia retomasse os sentidos até que chegasse a ambulância. “Quando o SAMU chegou, ela [a grevista] já havia acordado. Conseguimos pegar um acesso venoso, colocar soro e ela reagiu relativamente bem, então foi conduzida de ambulância para o hospital”.

Após receber atendimento médico no Hospital Regional Asa Norte, Zonalia retornou ao Centro Cultural de Brasil, onde permanece em repouso e segue sob observação da equipe de Saúde da Greve de Fome.

Na quarta-feira (22), os grevistas foram recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso e Rosa Weber.

Ato

No primeiro dia da greve de fome, em 31 de julho, os ativistas pediram audiências aos 11 ministros do Supremo. Até o momento, haviam sido atendidos pela presidente, ministra Carmen Lúcia, que ouviu um dos grevistas; pelo ministro Ricardo Lewandowski, que recebeu todos os ativistas, e pelos funcionários do ministro Gilmar Mendes.

Eles querem que a Corte coloque em votação as Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 43 e 44, que tratam da legalidade da prisão em segunda instância, como é o caso do ex-presidente Lula, mantido preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), desde o dia 7 de abril, sem que a sentença que o condenou tenha tramitado em julgado, ou seja, ainda cabe recurso.

Os sete militantes de movimentos sociais querem também que a Corte Suprema cumpra a determinação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) de que o Estado Brasileiro garanta a Lula os direitos políticos e a participação nas eleições presidenciais deste ano.

Antes da reunião, o pastor protestante Ariovaldo Ramos fez uma visita aos militantes, que estão usando camas hospitalares e, nos deslocamentos, cadeiras de rodas, e falou sobre o sofrimento do povo e do sacrifício do grupo.

"A situação nos leva a medidas extremas. Vocês representam a angústia que todos nós estamos sofrendo - o exceção que se estabeleceu no Brasil e um Judiciário que não está cumprindo seu dever. Se estivesse, nada disso estaria acontecido. O impeachment seria ilegal, o julgamento de Lula teria sido justo, os senhores do poder estariam nos tribunais e não assistindo as acusações caducarem", disse.

A pastora luterana Lusmarina Campos Garcia enviou uma carta de apoio aos grevistas, agradecendo a coragem dos militantes que tomaram essa decisão radical em prol da democracia e da justiça em nosso país. “A sua bravura nos dá força e inspiração", disse.

Lusmarina contou que escreveu uma carta para a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, responsável pela pauta da corte. "Há vidas esperando por sua decisão. Ela está nas mãos dela. A greve de fome é uma ação corajosa e desesperada ao mesmo tempo. Corajosa porque, com bravura, pessoas colocam a sua vida à disposição da construção de uma sociedade mais justa e igualitária; uma sociedade que não admita o retorno à miséria e à fome de milhões de cidadãos e cidadãs, como está ocorrendo no Brasil".

Quem são os grevistas

Frei Sérgio Görgen, 62 anos, gaúcho, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), diz que os ministros do STF precisam voltar a ter algum tipo de conexão com a população brasileira.

Rafaela Alves se manifesta por meio de versos: “A situação está extrema / Para onde vai a nação? / Com epidemias, desemprego / Sem saúde, educação / Políticas Sociais extintas / Resta abandono destruição. / Contra negros, jovens, mulheres / A violência só alimenta / Os preços desenfreados / O povo já não aguenta / A mídia segue mentindo / Nossas redes a enfrenta”.

Completando 68 anos em meio à Greve de Fome, Gegê Gonzaga, paraibano radicado em São Paulo, representa a Central dos Movimentos Populares (CMP), tem uma vida inteira dedicada à luta social. Segundo ele, “a resposta precisa começar de baixo pra cima e não de cima para baixo, somente assim o pobre, o trabalhador, o negro, o indígena, o camponês vão ter espaço de representação”.

Já a avó-coragem, Zonália Santos, 48 anos, que passou mal e foi socorrida em um hospital esta semana, é assentada da reforma agrária em Rondônia, deixou  filhos e netos em casa para se unir ao grupo. “Nós não estamos aqui nos manifestando apenas pelo direito do presidente Lula em ter um julgamento justo, nós estamos manifestando nossa contrariedade com a volta da fome, da miséria da exploração”.

O pernambucano Jaime Amorim, 58 anos, dirigente do MST e da Via Campesina, diz que o ato reafirma sua opção política e coloca em destaque denúncias que têm sido ignoradas pelo Poder Judiciário, que tem se mostrado subserviente ao grande capital.

“Passar fome nesta greve é uma opção militante, colocamos nossas vidas aqui para que se possa evitar que milhões de brasileiros e brasileiras passem fome por não ter comida na mesa, passem fome por não ter opção”, afirmou.

Também militante do MST, Vilmar Pacífico, 60 anos, veio do Paraná, falou sobre a indignação de um povo que enfrenta diariamente a pressão e a agressão por parte das forças do estado. “A justiça deveria servir ao povo, deveria ser o lugar onde pudéssemos nos socorrer, mas a verdade que temos observado a cada dia é que ela também está se prestando ao serviço do capital e virando as costas para aqueles a quem deveria cuidar”.

Já Leonardo Soares, 22 anos, do Levante Popular da Juventude, que aderiu à luta em 6 de agosto, diz que “essa greve de fome tem a função de fomentar a participação e a organização do povo”. Segundo ele, a luta que os ativistas empreendem é por uma causa justa, que aglutina o povo e propõe a organização como ferramenta principal na disputa que se configura no atual processo.