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28 de Setembro de 2011

Governo ainda hesita em adotar políticas para a indústria química

Por Letícia Cruz

A indústria química no Brasil precisa de investimento e de política específica de longo prazo, na visão de debatedores que participaram nesta quarta-feira (28) de conferência internacional realizada em Santo André, no ABC paulista. O evento discutiu os rumos do setor do ponto de vista sustentável, social, sindical e econômico projetados para o ano de 2020. Representante do governo federal admitiu que o Executivo federal ainda não deu conta de atender às demandas de incentivos específicos ao setor.

A indústria química é considerada importante para o país especialmente por permitir "agregar valor às commodities", segundo João Furtado, economista e professor do Departamento de Engenharia da Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). A referência é a matérias-primas de origem agropecuária e mineral, como açúcar, soja, carne e minério de ferro, que compõem a maior parte da pauta de exportações do Brasil. Beneficiando esses bens, o valor das exportações poderia ser maior do que o atual.

Convidados, os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloísio Mercadante, não compareceram. Pimentel enviou um representante, Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, que admitiu que o governo ainda "evita" tocar nos assuntos relacionados ao setor. "É uma indústria que produz mais com menos e usa menos recursos naturais e é de vital importância", resumiu. Apesar da falta de destaque do ramo no programa Brasil Maior, a promessa do governo é de abertura no debate.

"Se quisermos ter um país industrial com base sólida e sustentável, a química é o que irá abrir este caminho", pontuou Furtado. Para isso, seria necessário que o governo federal adotasse políticas específicas, compreendendo que o setor tem características diferentes dos demais, como o metalúrgico e o têxtil. Na prática, seriam necessários instrumentos adequados para inovação, como forma de combater a "desindustrialização" do setor. A análise é de que parte das fábricas passou a importar os produtos para apenas embalá-los no Brasil, sem realizar transformações relevantes nos produtos.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, evocou a política industrial apresentada em agosto pelo governo federal, o plano Brasil Maior, e voltou a defender a adoção de contrapartidas sociais. A sugestão é de garantias de emprego e de criação de novos postos de trabalho, além de melhores condições de trabalho. Segundo ele, o quesito ainda é carente de posições oficiais do governo.

Para o sindicalista, o debate em torno da produção e consumo conscientes precisa ser tratado com cuidado, já que a discussão pode trazer a necessidade de se conter o crescimento econômico. "Para as pessoas que dizem isso, respondo que topo (evitar o crescimeto), desde que se pegue tudo o que foi produzido no mundo para repartir com igualdade entre os 7 bilhões habitantes do planeta".

O presidente da CUT defendeu ainda diálogo com os empresários para se avançar em questões como a representação sindical dentro das empresas. "O que estamos fazendo no Brasil é transformar nossas empresas em multinacionais e criar mais situações ruins de trabalho", disse. Um dos principais problemas enfrentados na indústria química está relacionado à saúde do trabalhador.