“Comunicar com todos os meios para falar com milhões” foi o tema da 23ª edição do curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), com cinco dias de palestras e discussões, pensadas e programadas sob medida para sindicalistas, comunicadores e militantes de movimentos sociais.
“Eles construíram uma ideia boa, de modo a detectar como está a classe trabalhadora no século 21, como estão as mídias e como essas mídias influenciam a comunicação. O curso cumpriu com um propósito muito bom que é renovar os propósitos de comunicar e informar”, resumiu a secretária de comunicação da Fetquim, Nilza Pereira de Almeida.
“Particularmente eu gostei da fala dos professores Márcio Porchmann, Ricardo Antunes (Unicamp) e Virginia Fontes (Fiocruz) e do companheiro Guilherme Boulos (MTST), pois demonstraram o perfil da nova classe trabalhadora”, disse ela.
Ricardo Antunes, da Unicamp, destacou o fim da era da conciliação de classes e a existência de um enorme contingente de trabalhadores no setor de serviços. “Entramos na era da devastação do trabalho em escala global e isso nos obriga a pensar quem é a classe trabalhadora, no que é novo. A tragédia nova do nosso tempo vai da terceirização à intermitência, que é o contrato zero hora”.
Márcio Pochmann enfatizou a terceirização da economia e não apenas a terceirização do trabalho. E mostrou que isso acabou com o reconhecimento de classe. O pesquisador também lembrou que, para muitas pessoas, que nunca tiveram um trabalho formal, não há o entendimento da precarização criada pela reforma trabalhista e provocou a plateia presente ao dizer: “Hoje quem mais entende de classe trabalhadora não são os sindicatos, os pesquisadores, é o crime organizado e as igrejas neopentecostais, que organizam a classe, a construção de identidade e a sociabilidade de natureza comunitária”.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, explicou que os movimentos sociais populares absorvem trabalhadores a partir da dificuldade de articular identidade coletiva em locais de trabalho fragmentados, formando coletivos de resistência que se organizam em pautas da territorialização, como o MTST faz, reunindo “uma população trabalhadora que não consegue pagar aluguel”.
Ele citou a Ocupação Povo Sem Medo em São Bernardo do Campo, formada majoritariamente por trabalhadores informais da construção civil e por ex-químicos e ex-metalúrgicos da região do ABC, “uma legião de operários qualificados”.
Boulos propôs unidade entre movimentos de esquerda, sociais e sindicais e com o conjunto da base social trabalhadora como articulação necessária para reverter os retrocessos. “Trabalho de base é escutar, acolher as necessidades imediatas de luta e as reivindicações básicas dessas pessoas”, finalizou.