Guia – São Paulo passa por uma grave crise na segurança, no transporte, na educação e na questão hídrica. Como a Fetquim enxerga esses constantes problemas que o governo de São Paulo vem causando para a população?
Nilson – São Paulo passa por um momento difícil devido à péssima gestão que o senhor governador vem fazendo no Estado. Veja a quantidade de obras paradas e atrasadas. Por exemplo, as obras do metrô na linha 17, que eram para estar funcionado em 2012, antes da Copa do Mundo, têm a previsão de serem entregues só em 2017. Isso sem esquecer as denúncias de corrupção envolvendo o governo, como o caso da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em que o Ministério Público descobriu diversas irregularidades nas licitações dos trens do Metrô e da CPTM – que começaram a partir de um acordo feito 1997, mas que foi descoberto só em 2013, depois que a Siemens denunciou o esquema.
Veja o que a gestão tucana vem fazendo com o Estado, somos obrigados a conviver com o mínimo em segurança, mínimo em educação, mínimo em investimentos no abastecimento de água. Para nós, a gestão Alckmin é péssima. Houve uma piora em todos os serviços públicos controlados por esta gestão, ou seja, perdemos o estado de direito. Hoje a população de São Paulo vive assustada e doente.
Guia – Recentemente tivemos a campanha salarial do setor farmacêutico em meio a uma grave crise. Como foram as negociações?
Nilson – As campanhas salariais já são tradição da nossa base. Veja que o setor farmacêutico, mesmo com essa crise econômica mundial, teve um aumento tanto de produção como de vendas. Em 2014, foi registrado um aumento nas vendas em 13,65% e, em 2015, de 14,83%. O setor dos genéricos teve um aumento de vendas de 21,8%, os medicamentos em caixa tiveram 7,8% de crescimento, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Além disso, já existe uma prévia para que os preços dos medicamentos tenham um reajuste de 12,5%, ou seja, acima da inflação. Então, não vejo motivos para os empresários não atenderem as reivindicações da categoria com um reajuste justo em 2016 e recuperar o poder de compra do trabalhador. Nós garantimos um reajuste salarial de no mínimo de 10%, além do aumento dos valores da PLR e cesta básica ou vale-refeição. Foi uma campanha que manteve a tradição dos nossos sindicatos filiados, mostrando muita garra e determinação.
Guia – O que a Fetquim tem de novo para 2016?
Nilson – A aquisição da nova sede será importante para a categoria e irá trazer grandes benefícios para todos os trabalhadores do ramo, já que a Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ) também estará no mesmo imóvel, ou seja, teremos mais espaço para reuniões, para atender os trabalhadores e para atividades de formação e assembleias. O espaço será mais apropriado para organização das nossas campanhas salariais, estudos e definição de planos de lutas. Vamos intensificar, juntamente com os sindicatos filiados, a luta pela igualdade de oportunidades – uma vez que ainda persiste no País a prática de diferenças salariais entre gênero –, por políticas para os jovens e melhorias para a categoria química. Além disso, vamos iniciar a organização do nosso Congresso, que será realizado até o final de fevereiro do ano que vem, preparando pautas e teses que serão discutidas no evento.
Guia – Como a mudança da exigência das sacolinhas plásticas nos supermercados afetou o emprego no setor?
Nilson – Essa medida teve um impacto negativo na indústria em todo o Estado de São Paulo e beneficiou apenas os supermercados, porque o consumidor paga pela sacola, sendo que o preço dela já estava embutido no produto mesmo antes da nova exigência. Assim, a margem de lucro dos empresários só aumentou. E as pessoas de baixa renda são duplamente prejudicadas, porque não poderão reutilizar as sacolas para pôr o lixo de suas casas, sendo obrigadas a comprar sacos próprios, que são muito mais caros. Essa medida trouxe diminuição nas vagas de emprego na indústria plástica, com a perda de mão de obra; e o setor plástico é o que mais emprega dentro da categoria química.
Além disso, essas sacolinhas conhecidas como oxibiodegradantes não têm o efeito biodegradante, ou seja, trazem grandes prejuízos para o planeta por se transformarem em partículas maiores, o que acaba contaminado o solo e entupindo bueiros com mais facilidade. Concluindo, não trazem nenhum efeito positivo ao meio ambiente.
Guia – Sabemos que o nível de intoxicação por agrotóxicos no Brasil é alto, perdendo só para os medicamentos e animais peçonhentos. Então, por que a Fetquim apoia a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida?
Nilson – Da forma como são produzidos, os agrotóxicos trazem problemas para o País. Seja na linha de produção, onde um funcionário fica em contato direto com esses produtos no mínimo 8 horas por dia, mesmo com a utilização dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), seja expandido no ar, esses produtos trazem enormes riscos para os cidadãos. Hoje o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, e não existe nenhuma legislação que proíba a fabricação de muitos produtos que são banidos em vários países, que nós da Fetquim chamamos de “Banir os Banidos”. Os impactos à saúde pública são grandes, porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como trabalhadores rurais, moradores do entorno de fazendas, além de toda a população que consome alimentos contaminados. São várias as doenças que podem ser transmitidas em contato com esses agrotóxicos; por exemplo, câncer e problemas respiratórios e de pele. E não é só isso, esses produtos podem causar a contaminação de lençóis freáticos e rios, condenando gerações futuras. Somente em tratamentos de saúde há estimativas de que, para cada R$ 1,00 gasto com a aquisição de pesticidas, o poder público terá que gastar R$ 1,30 com cuidados médicos. Por isso, exigimos medidas concretas por parte do poder público. Em abril de 2011, foi criada a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Dela participam cerca de 50 organizações sociais, como a Via Campesina, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e a Fetquim.
Observação
No período de 2007 a 2011, foram registrados no Brasil 26.385 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola, 13.922 por agrotóxicos de uso doméstico, 5.216 por produtos veterinários e 15.191 por raticidas. Os agrotóxicos são o terceiro grupo responsável pelas intoxicações, com 11,8% dos casos. São antecedidos pelos medicamentos (28,3%) e animais peçonhentos (23,7%), segundo dados do Ministério da Saúde.