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16 de Maio de 2022

Entenda a alta da inflação e suas principais causas


Escrito por: Dieese


Dieese

A inflação do mês de abril anunciou um novo recorde de subida dos preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), divulgado recentemente pelo IBGE, determinou que o poder de compra do povo diminuiu 1,04%. O acumulado dos últimos 12 meses, é de 12,47%.

Essa é a maior alta registrada no INPC mensal desde 2003 e o maior acumulado em 12 meses desde novembro de 2003. No último mês, os itens que mais influenciaram a inflação foram itens alimentícios (2,26%). A cenoura, por exemplo, teve o preço ajustado em 150,33% nos primeiros meses do ano. O repolho subiu, em média, 76,05% esse ano e a batata-inglesa subiu 67,99% somente em quatro meses. Ao todo, 7 produtos tiveram acréscimos no valor superior aos 50% em 2022 todos fazem parte do dia a dia do povo.

Logo após a lista de alimentos com alta relevante, aparecem os produtos dos combustíveis e custos de transportes. Em resumo, a inflação atual é causada por problemas de oferta, isto é, decorrente dos custos de produção. Dentre as principais questões temos alimentos e combustíveis. A subida de preços de alimentos no governo Bolsonaro não é uma novidade. Agora, quais seriam as causas?

A política de preços da Petrobras

O óleo diesel teve inflação média de 23,88% este ano afetando de forma generalizada a cadeia de preços. Em uma economia como a brasileira onde 82% das cargas são transportadas por caminhão, qualquer reajuste no combustível tem impacto direto no bolso das famílias.

A política de preços da Petrobras tem influenciado diretamente o reajuste de alimentos e é uma das principais causas da atual inflação.  Desde 2016, a maior empresa brasileira do setor de extração e refino de petróleo resolveu adotar uma política de paridade de preço de importação (PPI). O petróleo no mercado internacional vem subindo rapidamente em decorrência de diversos fatores iremos abordar a seguir. Com isso, a empresa vem distribuindo lucros históricos (44,5 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2022) e deixa a população pagando caro por gasolina, gás (GLP) e diesel.

Gráfico do Lucro Líquido da Petrobras, 2002 – 2021.

Não bastassem os problemas acima, desde a implantação do PPI a Petrobrás opera com capacidade ociosa, ou seja, poderia aumentar a produção sem precisar construir novas unidades. Com isso, há um aumento na importação de produtos do refino de petróleo. A Petrobras hoje está lucrando mais e produzindo menos.

Ultimamente, lideranças políticas do campo progressista têm apontado para necessidade de “abrasileirar” os preços dos combustíveis. Com isso, a fórmula do PPI seria alterada para levar em consideração os custos de produção dos combustíveis pela Petrobras com acréscimo de uma margem de lucro aceitável que garantiria novos investimentos, ao mesmo tempo, controlaria a pressão inflacionária de combustíveis.

Políticas Públicas de controle de estoques

Além da questão dos combustíveis, a inflação de alimentos é causada pelo (des)controle de estoques. Nos últimos anos, políticas públicas de controle de estoques como CEASA, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e fomentos à agricultura familiar foram desestruturados. Com isso, os mecanismos do governo federal para conter o aumento nos custos de alimentos tem sido negligenciados, abandonando a população na busca por alimentos em momento de diminuição da renda.

A agricultura familiar, por exemplo, é essencial para alimentação pagável do povo brasileiro. Através da agricultura familiar, cerca de 70% dos alimentos consumidos no país são entregues, segundo dados do censo agropecuário. Agricultura de pequenos produtores também é responsável por movimentar a economia local de pequenas cidades e da zona rural, criando consumo e oportunidades de emprego.

Cenário de incertezas: COVID-19 e Guerra na Ucrânia.

Vivemos em um mundo de incertezas. As paralizações decorrentes das políticas de isolamento social da Covid-19 ao redor do mundo deixaram cadeias globais de abastecimento e produção desarticuladas e desmobilizadas. No caso, a atual política de covid zero na China vem paralisando atividades e ameaçando fornecedores e produtos. Com escassez de matéria-prima ou produtos intermediários, os preços têm variações podendo até ocorrer a falta de mercadorias.

Além do cenário pandêmico atípico, a guerra precipitada no leste da Ucrânia também traz novos elementos para o fluxo de comércio mundial. Em 24 de fevereiro de 2022, a situação tomou novos patamares. Em retaliação, diversos países aplicaram sanções econômicas à Rússia. A Rússia tem uma importância singular na produção de fertilizantes que alimentam o agronegócio brasileiro e influência diretamente os preços de commodities (trigo, petróleo e gás).

Sem um planejamento e controle dos impactos da guerra sobre a economia brasileira, as famílias ficarão expostas aos preços dos produtos variando de forma incomum. Caso a situação se agrave, há riscos de desabastecimentos de produtos que podem ter um impacto ainda pior para ambos produtores e consumidores.

 As negociações de trabalhadores, por sua vez, tornam-se mais difíceis em cenário de inflação e desemprego acima de 10%. É tarefa das organizações sindicais prezar pela manutenção do poder de compra dos trabalhadores na base, almejando negociações como a Convenção Coletiva Farmacêutica da FETQUIM, assinada em abril desse ano, que ofereceu um reajuste acima do índice de inflação para o vale alimentação/refeição.