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16 de Outubro de 2025

Dirceu defende que sindicatos assumam papel central na reconstrução do país


Escrito por: CUT


CUT
Legenda: Joel Souza e Dirceu

O ex-ministro da Casa Civil e liderança histórica do PT, José Dirceu, foi o convidado especial da 17ª Plenária Nacional da CUT João Batista Gomes (Joãozinho) — com o tema “Novos Tempos, Novos Desafios” — que começou na terça-feira (14), na quadra dos bancários, no centro de São Paulo.

José Dirceu defendeu que a classe trabalhadora e seus sindicatos assumam papel central na reconstrução do país e na consolidação do projeto político iniciado com o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo.

Para ele, o protagonismo da classe trabalhadora é condição para que a reconstrução nacional se torne efetiva. “O sindicalismo tem de ocupar novamente o centro da vida política, como fez em 1988. Foi a CUT e foi o movimento popular que garantiram a Constituição Cidadã, que estabeleceu os direitos sociais e trabalhistas. Agora, a tarefa é defendê-los e ampliá-los.”

Dirceu destacou que o país vive um momento decisivo, com queda do desemprego, retomada da indústria e políticas de valorização do salário mínimo, mas alertou para a necessidade de transformar esses avanços conjunturais em mudanças estruturais. “Não podemos depender de um ciclo econômico. Precisamos de reformas estruturais que garantam renda, emprego e cidadania para as próximas gerações.”

Reforma do Estado e soberania nacional

Ele lembrou que o Brasil viveu um processo de desmonte das políticas públicas e de perda de capacidade do Estado durante os governos anteriores, com privatizações e cortes orçamentários em áreas essenciais. “Nós precisamos reconstruir o Estado brasileiro, retomar empresas estratégicas e reindustrializar o país. "Um Estado fraco é um Estado submisso”, disse, ressaltando a importância do BNDES e de programas como a Nova Indústria Brasil.

Dirceu associou a crise social e econômica à hegemonia neoliberal que, segundo ele, se impôs a partir dos anos 1990 e foi reforçada por governos recentes. “A agenda neoliberal desmontou o Estado, destruiu a soberania e retirou direitos. Nós estamos reconstruindo o Brasil, mas precisamos de um novo pacto nacional para sustentar isso.”

Roberto Parizotti

Eleições 2026

O ex-ministro afirmou que o contexto nacional e internacional exige mobilização, consciência política e capacidade de disputar corações e mentes, sobretudo diante da proximidade das eleições de 2026.

“Não basta termos o presidente Lula. Precisamos de um Congresso comprometido com a soberania nacional e com os direitos do povo. É essa base parlamentar que garantirá que o projeto iniciado em 2023 não seja interrompido novamente”, afirmou. Para ele, as próximas eleições serão um divisor de águas: “Ou consolidamos o processo de reconstrução do Estado e da economia, ou voltaremos à estagnação e à tutela dos interesses privados”, declarou.

Dirceu afirmou que a derrota do bolsonarismo em 2022 não encerrou o ciclo autoritário, mas abriu uma janela de reconstrução que ainda é frágil. “Se Bolsonaro tivesse sido reeleito, talvez não estivéssemos mais aqui, reunidos. A democracia brasileira resistiu, mas ainda está sob ameaça. Por isso, 2026 é decisivo.”

Mobilização e consciência política

Dirceu reafirmou que o futuro do Brasil dependerá da capacidade de o povo se organizar. “A história nos ensina que sem mobilização não há transformação. A elite nunca abriu mão de seus privilégios por vontade própria. É o povo, nas ruas e nos sindicatos, que faz a roda da história girar.”

Para ele, o desafio não é apenas eleger representantes, mas formar consciência. “Temos de reconstruir a esperança, disputar o sentido do que é o trabalho, do que é o Estado, do que é o Brasil. Essa é a nossa tarefa histórica.”

Dirceu fez um alerta e um chamado: “Não podemos achar que basta vencer a eleição presidencial. Sem maioria no Congresso, sem força popular, o projeto de desenvolvimento e soberania não se sustenta. 2026 será decisivo para consolidar o que começamos em 2023.”

Disputa ideológica e cultura política

Ao analisar o cenário mundial, Dirceu apontou a ascensão da extrema direita e a disseminação de discursos de ódio como desafios centrais. “O que estamos enfrentando não é apenas uma disputa eleitoral, é uma batalha de valores. Eles querem um mundo branco, cristão e hétero; nós queremos um mundo de diversidade, solidariedade e justiça social.”

Segundo ele, essa regressão civilizatória só pode ser enfrentada com organização popular e ação política permanente. “A luta é também cultural e ideológica. Precisamos disputar o imaginário da sociedade, a narrativa do que é ser brasileiro. É preciso reconstruir o sentido de nação.”

Juros, desigualdade e pacto social

Ao abordar a economia, o ex-ministro criticou as altas taxas de juros e a estrutura tributária regressiva. “Os ricos seguem isentos enquanto o povo paga a conta. O país é riquíssimo, mas a renda continua concentrada. Não é possível crescer sem distribuir”, afirmou.

Dirceu defendeu uma nova política de crédito e investimento produtivo, apoiada em bancos públicos, para fortalecer a indústria nacional e reduzir as desigualdades regionais. “Precisamos desconcentrar a renda e também o território produtivo. O Nordeste e o Norte têm de fazer parte do novo ciclo de desenvolvimento.”

Defesa do fim da escala 6x1

Em entrevista especial para as redes sociais da CUT, Dirceu falou sobre a escala 6x1, ao afirmar que “há uma rebelião silenciosa da juventude brasileira que não aceita trabalhar de segunda a sábado — não oito horas, que geralmente são 10, 12 horas — em funções como empacador, caixa, açougue, padaria, construção civil. A juventude não aceita mais isso”.

Dirceu contestou o discurso patronal que atribui a falta de mão de obra a uma suposta “falta de vontade” dos jovens. Para ele, o problema está nas condições oferecidas e na ausência de perspectivas dignas.

“Os empresários estão reclamando que falta mão de obra, mas falta pelos baixos salários, pelos trabalhos extenuantes, repetitivos. Ao contrário do que andou dizendo por aí, essa é a verdade: a juventude não tolera mais essas condições”, disse.

O ex-ministro defendeu que a luta pelo fim da escala 6 por 1 e pela valorização do trabalho deve ser uma pauta prioritária do movimento sindical, especialmente num momento em que a economia brasileira se reorganiza e o emprego formal cresce lentamente.

“Essa pauta é uma pauta de todos nós, da CUT, de todas as centrais sindicais e da maioria do nosso público. Como as pesquisas indicam, vamos lutar pelo fim da escala 6 por 1 e por melhores salários”, afirmou.