O geógrafo marxista britânico David Harvey afirmou durante o lançamento de seu livro "A loucura da razão econômica" (Editora Boitempo), ontem (20), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), que a esquerda no mundo tem hoje o desafio de compreender uma "luta maior para anular o sistema capitalista". "O ativismo da esquerda está presente no ‘mapa’ do capitalismo. Na luta pela natureza, pela vida, nos meios de produção, contra a grande acumulação e a destruição de culturas. Está presente também nas lutas expressivas sobre a posse de terras. Podemos articular e apoiar essas lutas, mas a esquerda tem que ter em mente que o grande objetivo é anular o sistema capitalista. Essa grande luta ou luta maior emerge a partir da compreensão da totalidade desse sistema", disse ele.
O Produto Interno Bruto do mundo, hoje, é de 80 trilhões de dólares. Segundo Harvey, 18% dos investimentos dos maiores bancos dos EUA são dirigidos para os empresários "produzirem coisas" (bens materiais). "O resto é para financiar fusões e aquisições, negócios com terra e especulação imobiliária. Marx esperava que vivêssemos a ditadura do proletariado, mas hoje vivemos sob a ditadura dos bancos centrais", afirmou o geógrafo. Desde a crise de 2008, o patrimônio da parcela 1% mais rica subiu de 15% a 20%. "Isso eles chamam de recuperação."
De acordo com a visão do geógrafo – professor da Universidade da Cidade de Nova York –, um setor econômico que se destaca no cenário internacional atual é o de extrativismo de minérios (como cobre). Além de esses recursos serem limitados, o extrativismo predatório atinge áreas que deveriam ser de proteção, como as indígenas, e a destruição de culturas se torna uma das mais perversas consequências do sistema.
Sendo o extrativismo mineral uma das faces do capitalismo contemporâneo, ele defende o fortalecimento de estratégias de controle dos territórios e de acumulação por meio da rapinagem e projetos exportadores.
Dependência do capitalismo
O capitalismo, observa Harvey, cria necessidades e torna as pessoas dependentes de novos produtos e hábitos. "Nós não precisávamos de celular há 30 anos, e não ficávamos malucos se os perdêssemos", brincou.
Segundo ele, as crises do capitalismo são inevitáveis e periódicas. Nessas crises, como a iniciada em 2008, tanto a mão de obra como o próprio capital acabam "sobrando", como excedentes.
Porém, as crises revelam um aspecto particularmente perverso do capitalismo. Embora haja capital e trabalhadores em excesso, o que ele chama de "excedentes de mão de obra", o capital nada faz para incorporar os trabalhadores ociosos ao mercado, já que o capitalismo só se interessa pelo que proporciona lucro em detrimento dos humanos. Essa é uma das insanidades características do sistema.