Desmatamento, queimadas, uso de agrotóxicos, aquecimento global, privatização, falta de investimento e de fiscalização ambiental. Todas essas questões serão levadas às ruas do Brasil e de outros países nesta sexta-feira (20), dia da Greve Global pelo Clima. Ao lado dessas pautas ambientais também estarão bandeiras em defesa dos direitos trabalhistas, da aposentadoria e contra o desemprego.
Esta foi a definição da CUT e demais centrais - CTB, CGTB, Intersindical, UGT e Conlutas -, da Coalizão pelo Clima - articulação que reúne quase 70 organizações da sociedade civil - e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, nesta segunda-feira (16), na cidade de São Paulo.
Atos estão sendo organizados em vários estados, como Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará e Pernambuco. Na capital paulista, as atividades estão programadas a partir das 13h, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), com aula pública sobre aquecimento global e oficinas de cartazes. O ato terá concentração às 16h.
O objetivo principal é cobrar dos governos ações para barrar o aquecimento global, em defesa da vida e do planeta. No Brasil, além disso, a ideia é denunciar o governo de Jair Bolsonaro (PSL) que, como apontam os movimentos, está destruindo não só o meio ambiente, mas também a democracia, os direitos, os empregos e a Previdência Social.
Como aponta o Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, o país assiste o descaso de um governo não apenas em questões como a do desmatamento, que sempre constituiu atividade central da política ambiental, mas também em relação aos direitos trabalhistas.
“Os que estão destruindo a Amazônia são os mesmos que querem destruir a Previdência Social, os mesmos que estão acabando com a legislação trabalhista. Essas pautas estão todas interligadas e estaremos juntos contra o governo Bolsonaro. A orientação a todos os sindicatos é que os trabalhadores e trabalhadoras cruzem os braços na parte da manhã do dia 20 e se somem aos atos na parte da tarde”.
Além do dia 20, a CUT e demais centrais também farão protestos no dia 24 em Brasília, data em que será votada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 006/2019, nome oficial da reforma da Previdência, no Senado. “Iremos receber os senadores no aeroporto pela manhã e depois vamos protestar no entorno do Congresso Nacional”, diz Sérgio.
Ações unificadas
Representante da Coalizão pelo Clima, Marília Cyrne ressalta que esta unidade entre trabalhadores e trabalhadoras, movimentos sociais e a agenda do clima tem sido crucial para manter uma ampla ação, como ocorreu em outros momentos.
Assim como Nobre, ela também defende uma visão holística sobre a pauta do meio ambiente e dos direitos trabalhistas. “O capitalismo é a base do problema ambiental e também a base da questão da violência contra os trabalhadores, esta que acontece em vários níveis. A única solução possível será construída coletivamente e com as bases”, afirma Marília.
Exemplo desta unidade citada por Marília pode ser observado, segundo o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, com a parceira estabelecida entre a sua entidade e a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL). Neste mês, as duas centrais estão alinhadas e unidas na Greve Global pelo Clima, em ações conjuntas, entre outros espaços, nas redes sociais. No Brasil, a atividade será dia 20. Na Itália será dia 27.
Pelo Brasil, Izzo critica os cortes ofensivos que o governo de Bolsonaro tem feito nas políticas sociais e que vão gerar impactos também no meio ambiente. “O inimigo é um só. Os que estão do lado de cá condenam as queimadas, os ataques ao meio ambiente e a situação de miséria do povo brasileiro, que não tem acesso a direitos básicos, como a habitação, sendo obrigado a viver em áreas de risco, jogado nas periferias, próximos aos rios e córregos. Estamos falando de uma questão ambiental, mas que é também econômica e social”.
Para a secretária de Meio Ambiente da CUT-SP, Solange Ribeiro, “um desenvolvimento realmente sustentável deve incluir um ciclo virtuoso de respeito à natureza e de democracia plena promotora de dignidade econômica, igualdade social e redutora de impactos ambientais”.
Sociedade que queremos
Pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Liciane Maria Andrioli defende que o debate sobre a questão ambiental esteja atrelado à discussão sobre o modelo de sociedade. “Nesse modelo capitalista, o meio ambiente é tido apenas como mera fonte de recursos e de matéria prima para a geração de riqueza, não importando o uso racional e a preocupação com a destruição, o lucro sempre está acima da vida”.
Para ela, o caminho se dá pela construção de um “projeto alternativo socialista de sociedade”. Neste modelo, diz ela, “o uso desses recursos, da água, energia, minérios, estão dentro de um projeto nacional de desenvolvimento, seu uso deve respeitar a autodeterminação dos povos que, nesse projeto, tem o controle popular desses recursos. Além disso, em primeiro lugar está o atendimento às demandas do povo, não se produz para o rentismo e a especulação”.
Ainda, Liciane lembra que, diante da atual crise ambiental, é fundamental reforçar o papel das transnacionais que, neste modelo econômico, aumentam a exploração sobre esses recursos na tentativa de retomar suas taxas de lucro. “É por isso que temos visto um aumento significativo nos últimos 10 anos dos crimes da Mineração como aconteceu nas cidades mineiras Mariana, Barcarena e Brumadinho e a devastação desenfreada da Amazônia”.
Neste sentido, para o militante do movimento negro de Pedreira (SP), Antônio Alves Neto, é preciso mostrar para diversos setores na sociedade o quanto é uma falácia a tentativa de o governo explicar que se preocupa em alguma medida com o meio ambiente. “Ele ataca de forma permanente os direitos dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mas tenta dizer que ele é quem defende o meio ambiente”, diz.
Alves também avalia que a defesa do meio ambiente tem relação com a retirada de investimentos em outros setores essenciais para o país. “Este ataque tem tudo a ver com a educação, por exemplo, já que o governo retira dinheiro desta área, não prepara a população para a defesa do meio ambiente e tenta descaracterizar esta luta pela terra e por nossas florestas”, acrescentou Neto, que também é dirigente da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra).