Diante da pandemia causada pela Covid-19, a classe trabalhadora se viu em situações que exigiram rápida resposta dos sindicatos. Além do risco de contaminação, por conta das fábricas pouco preparadas para seguir as recomendações de segurança, a crise trouxe ameaças de demissão, acordos individuais para cortes no salário e a suspensão dos contratos ̶ entre outras situações de precarização e abusos ̶ , o que tornou urgente a realização de assembleias virtuais e consultas aos trabalhadores por meio de redes sociais e aplicativos.
“A grande questão foi como fazer para consultar e dialogar com os trabalhadores sem causar aglomerações, e aí entrou a tecnologia”, explica Nilza Pereira, diretora dos Unificados de Osasco e secretária de Comunicação da Fetquim.
O advogado da Fetquim, Vinicius Cascone, afirma que é possível a realização de assembleias virtuais por meio da utilização de aplicativos: “Não existe vedação para a utilização das ferramentas eletrônicas disponíveis para a realização de reuniões, assembleias e consultas junto aos trabalhadores”.
As regras da assembleia virtual devem ser as mesmas regras da assembleia comum.
Os sindicatos filiados à Fetquim estão realizando assembleias virtuais. Os Químicos Unificados, por exemplo, elaboraram um modelo de assembleia virtual sem custos de sistemas e aplicativos, apenas utilizando formulários de pesquisa gratuitos do Google e enviando esses formulários via Whatsapp.
Novas soluções para combater velhos ataques
É possível montar grupos por WhatsApp com cadastro prévio onde o sindicato verifica se a pessoa está ou não apta a votar.
De acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, o WhatsApp está instalado no smartphone de 99% dos brasileiros, sendo que 93% usam o aplicativo todos os dias.
No caso da MP 936 ̶ que trouxe a previsão de realização de assembleias virtuais ̶ , a Regional Osasco dos Unificados montou um plano de ação para confrontar as empresas e conseguir com que algumas fizessem propostas de acordos coletivos, com garantias a mais para os trabalhadores, ao invés de acordos individuais.
As assembleias virtuais foram realizadas tomando todos os cuidados para manter o anonimato dos trabalhadores na apuração dos votos e preservando o sigilo de seus dados pessoais.
Antes de enviar os links para preenchimento dos formulários de consulta, dirigentes do sindicato explicavam via Whatsapp todos os detalhes da proposta apresentada pela empresa, as implicações e eventuais desdobramentos, além de orientar aqueles que são pouco familiarizados com tecnologia. Somente após apuração dos votos e concordância da maioria é que o sindicato assinou os acordos.
Comunicação virtual é um caminho sem volta na rotina dos sindicatos
Reuniões online por meio de aplicativos permitiram negociações com as empresas e a comunicação entre dirigentes e funcionários do sindicato desde o início da pandemia.
“Garantir o pleno funcionamento do sindicato através de mecanismos tecnológicos foi essencial nesse momento de pandemia, pois as fábricas da categoria não pararam suas produções e, consequentemente, acordos de PLR, homologações, processos trabalhistas, afastamentos por problemas de saúde e outras demandas dos trabalhadores continuaram surgindo”, explica Nilza Pereira.
A Regional Osasco dos Unificados organizou assembleias virtuais para a Campanha Salarial dos Farmacêuticos e a prorrogação de mandato da diretoria, pois a pandemia inviabilizou as eleições sindicais presenciais programadas para o mês de maio.