Em condições normais a cena seria surreal, mas em tempos de crise aguda da velha política o impensável realiza-se com frequência – ainda mais, no Brasil. Passada apenas uma semana de um golpe de Estado, a Avenida Paulista, em São Paulo, viveu na quarta-feira 7 uma reviravolta. Ali, a poucas quadras de onde realizavam-se, em março, as grandes manifestações de ódio à democracia, quem protagonizou a cena foi outra multidão.
Cerca de 20 mil pessoas, que se auto-convocaram a partir de uma mensagem singela em redes sociais e caminhavam desde a praça da Sé, interromperam sua marcha diante do escritório da Presidência da República, na esquina com a Rua Augusta.
Por volta das 16h, o expoente de um pequeno grupo, a Esquerda Marxista, dirigiu-se aos manifestantes – a grande maioria, muito jovens. Não tinha nem carro de som, nem microfone. Falava e suas palavras eram repetidas, em sucessivas ondas de jogral. Propôs o compromisso de todos com um novo protesto, no próximo domingo, 11/9. Foi ovacionado – e é provável, como se verá, que iniciativas semelhantes espalhem-se por todo o País. Convocou todos a não aceitar os atos do governo ilegítimo e a não descansar, enquanto este não cair.