O Sindicato dos Operários em Produtos Químicos e Similares de São Bernardo, primeiro nome do Sindicato dos Químicos do ABC, surgiu em 08/10/1938, com a primeira sede localizada em um sobrado, na rua Bernardino de Campos, 15b, no Centro e Santo André.
O Sindicato foi fundado em uma época de profundas transformações. O parque industrial ainda engatinhava, e os investimentos no setor químico eram muito menores que os atuais. Os trabalhadores, na sua maioria imigrantes, vinham do campo com pouca ou nenhuma experiência na vida urbana fabril. Em grande parte europeus, os operários trouxeram na bagagem, nas duas primeiras décadas do século, uma experiência sindical combativa, mas a proibição de entrada de novos imigrantes, feita por Getúlio no início dos anos 30, modificou o perfil da classe operária.
Nesta época, a categoria dos químicos ainda era pequena e dispersa. No início dos anos 40, o Sindicato dos Químicos do ABC se restringia exclusivamente aos operários da Rhodia. A direção não tinha funcionamento regular e muito menos era combativa.
Com a Segunda Guerra Mundial, pioraram as condições de trabalho. A Lei do Esforço de Guerra identificava qualquer movimento grevista como tentativa de sabotagem e a ausência no serviço era vista como deserção, enquadrando os operários num regime de trabalho militarizado. Mesmo assim, houve uma resistência contra as más condições de trabalho e de salário.
Em 1945, as reivindicações represadas nos anos anteriores vêm à tona e o descontentamento eclode numa onda de greves de proporções inéditas para a época. O movimento sindical cresce, e no mesmo ano surge o MUT - Movimento de Unificação dos Trabalhadores que, apesar de ter durado pouco tempo, deixou mais claro para os trabalhadores a necessidade de uma central sindical que unificasse as lutas. No ano seguinte, tentou-se organizar a CGTB - Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil, logo fechada pela polícia.
Em 1947, o PCB, organizador e dirigente na época do grosso das manifestações operárias no pós-guerra, com forte presença na vida sindical do ABC, foi colocado na ilegalidade - 143 sindicatos em todo o país sofrem a intervenção do governo Dutra.
Neste período, o Sindicato dos Químicos era liderado por Lúcio Carmignole; a situação política no ABC ficava cada vez mais difícil, com vários sindicatos da região sob intervenção. Mesmo assim, na década de 40, contando com pouco apoio e dificuldades de toda ordem, durante 15 dias, os trabalhadores da Rhodia cruzam os braços em greve.
Em 1951, Antônio Gouveia assume a presidência do Sindicato. Logo após, em março de 1953, os têxteis de São Paulo lideram uma greve contra a carestia que se generaliza e chega a atingir 300 mil trabalhadores. Neste movimento, os piquetes de greve paralisaram os altos fornos da Cerâmica São Caetano. A mobilização deu origem ao PUI (Pacto de Unidade Intersindical) poucos meses depois.
Em 1955, Trajano José das Neves vence as eleições do Sindicato. Mas foi acusado de comunista, e impedido de assumir o cargo. O clima de caça às bruxas e delação havia penetrado no meio sindical e a simples suspeita de que um líder pudesse expressar e organizar as reivindicações da categoria, era pretexto para o Ministério do Trabalho intervir no Sindicato. O Ministério intervém e o ex-presidente Antônio Gouveia é posto como interventor.
Mas a situação política e econômica nacional começa a mudar. Com a posse de Juscelino, a instalação das montadoras e a construção da via Anchieta, o ABC é palco de um aumento acelerado dos investimentos no parque industrial, inclusive na indústria química. Ao mesmo tempo, as lutas operárias que cresciam desde 52, conquistaram maior espaço na cena política.
Em 1956, a intervenção termina e Trajano finalmente toma posse, começando uma trajetória controvertida como presidente do Sindicato por mais de dez anos.
Em 1957, em nova onda de greves, 500 mil trabalhadores protestam e entram em greve em todo o Estado de São Paulo. A direção foi assumida pelo PUI, que articulou mais de cem sindicatos de várias categorias. No bojo desta luta, surgiu a Federação dos Químicos de São Paulo, dirigida por Francisco Floriano Desen, militante comprometido com as reivindicações da categoria e dos trabalhadores.
A greve da Rhodia
Em 1959, eclode uma memorável greve na Rhodia, que durou 29 dias. Começou no setor de produção de acetona e estendeu-se por toda a empresa. A reivindicação principal foi um pedido de aumento para todos de 4 cruzeiros por hora. A empresa iniciou as negociações com uma oferta de 1,5 cruzeiros por hora.
Foi organizada uma comissão de greve contando com operários de diversos setores da empresa. Durante todo o movimento, funcionou ativamente um Fundo de Greve, que recolhia alimentos e dinheiro.
Várias passeatas foram realizadas no centro de Santo André. Companheiros grevistas se deitaram nos trilhos da estrada de ferro para barrar a passagem dos trens. O entusiasmo e a coragem das operárias e dos operários conquistaram a simpatia da população e finalmente os trabalhadores obtiveram a vitória, conquistando o aumento de 4 cruzeiros. Foi um movimento que estimulou a autoconfiança e serviu de exemplo a toda uma geração de trabalhadores químicos.
Os primeiros anos da década de 60 foram marcados por grandes mobilizações políticas dos trabalhadores pelas Reformas de Base, contra as ameaças de golpe, contra o imperialismo e de solidariedade a Cuba. No ABC, foram realizados grandes comícios e mobilizações, que contaram com a presença de Jango, Arraes e outras personalidades políticas de então. Mas era uma mobilização sem bases sólidas, montada em cima de organismos de cúpula, como o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), que centralizava e dirigia as lutas sindicais, mas nunca se propôs a acabar de vez com a estrutura corporativista e organizar uma unidade sindical combativa e enraizada nas empresas.
A sociedade brasileira se polarizava entre uma saída golpista ou uma alternativa popular para a solução de seus problemas econômicos e sociais. A crises econômica foi capitalizada pela burguesia, que passou a conspirar com os militares, contando com o apoio ostensivo dos Estados Unidos. As ilusões das lideranças progressistas da época e a histeria autoritária e anti-comunista das classes médias abriram caminho para a saída reacionária. O movimento popular e sindical não teve condições políticas para evitar o golpe militar.