O discurso em nome da saúde é uma das mentiras que mais paralisam as pessoas, transforma a vida em mercadoria, coisifica a humanidade e abre a estrada para uma minoria obter o benefício levando a grande maioria às enfermidades que cultivam a morte. Em momentos como este, que um vírus coloca o viver no paredão do medo, da insegurança, da angustia e do fim da existência, se evidenciam os subterfúgios que coisificam a vida.
O Brasil é um ambiente deste caminho que predomina no mundo capitalista. O país em 2019, já alcançou o sexto lugar no mercado farmacêutico do mundo. E esses dados não significam muitas substâncias para salvar vidas, mas apenas o lucro que os empresários, desse grande mercado mundial, acumulam. E é por essa razão, no culto do lucro, que os empresários comemoram que até 2023 o Brasil chegará no quinto lugar mundial movimentando 175 bilhões de reais com produção e venda de medicamentos (segundo pesquisa da INERFARMACIA).
Não param por ai as indicações de que a saúde ficou no limite da acumulação de dinheiro e dos grandes lucros. Segundo a FENASAUDE (Federação Nacional de Saúde Suplementar) as empresas de plano de saúde tiveram receitas muito superiores as suas despesas. Estamos falando de lucros líquidos que ultrapassam 20% com valores altíssimos em bilhões de reais.
Mas isso não se limita aos lucros, mas também aos mínimos investimentos que o Estado faz em saúde. O Estado investe 20 bilhões de reais a menos em saúde quando seria necessário o investimento superior a 50 bilhões, no mínimo, para que o SUS conquistasse a saúde necessária para cuidar das pessoas. Mas nada disso é natural, inclusive cabe sim destacar que os impactos de menos recursos para a saúde, que amargam o Estado, ainda mais em sua versão atual, foram ampliados pela Emenda Constitucional 95.
As medidas se complementam. O Estado investir menos em saúde, aumentar as filas, apostar em mais doenças, diminuir o aporte de atendimento da população, faz sim ampliar a corrida para os planos e para a compra progressiva de medicamentos. Nessa onda gigantesca do lucro, do individualismo, dos interesses mais egoístas que tomam a moral das pessoas no mundo, a vida é quem mais sofre. Mas não é qualquer vida. Trata-se da vida da natureza e das pessoas que precisam vender a força de trabalho para sobreviver. Nesse processo tudo é transformado em mercadoria e a negociação infindável, tendo o Estado como gerente, somente aumenta.
São as ações políticas que permitem que o Estado seja garantidor do lucro ou operador da Vida. Isso está em disputa na sociedade e nós precisamos assumir e ampliar as condições para que a vida seja predominante em todos os aspectos. A bandeira da vida acima do lucro é mais atual a cada dia, ainda mais nesse momento de pandemia que toma as pessoas que mais precisam de recursos para sobreviver e não os conquistam pela barreira da exploração.
São indicações objetivas que precisam ser enfrentadas. O orçamento do SUS, que precisa ser potencialmente ampliado, corre o risco, em 2020, de ficar 30 bilhões menor. As informações, ainda que cada vez mais maquiadas e trancadas, são abusivas. A vida da maioria das pessoas está, cada vez mais, sendo atacada devido aos oportunistas de plantão que se aproveitam da pandemia. Inclusive o conceito de seguridade, tão importante para o mundo e principalmente para sociedades de capitalismo tardio, como o Brasil, é inexistente e massacrado a cada dia. Haja vista a humilhação que o governo impõe aos mais necessitados com as enormes filas em frente as agências de bancos.
As aberrações que estamos observando com a crise pandêmica do COVID-19 é apenas a face exposta das mazelas do Estado, que sempre deixou de investir na saúde pública para enriquecer os proprietários dos planos de saúde e dos hospitais privados. É assim, com o Estado operando em favor dos milionários, que são garantidos lucros abissais sobre a vida de cada um de nós da classe trabalhadora.