Por volta dos anos 1960/1970, a sociologia do trabalho era a coqueluche no plano das ciências sociais. Poucas décadas depois, os temas do mundo do trabalho parecem relegados a um assunto entre outros, como se a atividade de trabalhar tivesse deixado de ser aquela que ocupa a maioria esmagadora da humanidade, em grande parte das suas vidas.
Por um lado, houve transformações reais no capitalismo, que modificaram o lugar do trabalho e sua própria natureza, nos processos de reprodução do capital. Inquestionavelmente, as relações formais de trabalho diminuíram, embora a produção tenha aumentado exponencialmente.
Basta considerar quantos trabalhadores estão hoje na indústria automobilística brasileira – muito menos que há algumas décadas – e, ainda assim, como aumentou enormemente a produção de veículos. O que significa um aumento brutal da exploração do trabalho. Em outras palavras, o trabalho é responsável, cada vez mais, pela criação dos valores na sociedade capitalista, mas explorando mais a menos trabalhadores.
No seu conjunto, nunca tanta gente vive do seu trabalho como atualmente no capitalismo mundial. Nunca o trabalho foi a atividade tão determinante na vida de tantas pessoas como agora. É a atividade mais importante da humanidade.
No entanto, na opinião pública, é como se o trabalho fosse desaparecendo, como se fosse uma mera atividade entre outras. Na própria identidade dos trabalhadores, o autorreconhecimento como trabalhador foi diminuindo de importância.
Cada vez menos trabalhadores se reconhecem como trabalhadores como sua identidade fundamental. Tendem a reconhecer-se como brasileiros, como paulistas ou cariocas, como corintianos ou flamenguistas, como negros ou como brancos, como evangélicos ou como católicos, como homossexuais ou como heterossexuais, como motorista ou como ciclistas, para dar alguns exemplos. Há algumas gerações, as identidades de trabalhadores, operários, bancários, professores, eram determinantes.
A ideologia dominante contribuiu também para essa situação, escondendo do imaginário público as atividades dos trabalhadores, personagens que não aparecem na visão social, enquanto a maioria das pessoas passa grande parte da vida trabalhando.
É certo que proporcionalmente cada vez menos pessoas têm empregos formais, com carteira assinada, o que contribui para essa situação. Mas a realidade é que mais gente vive do seu trabalho. É certo que a própria atividade do trabalho foi ganhando maior heterogeneidade, tanto na direção do trabalho intelectual, quanto nas múltiplas e diversas atividades do subproletariado, incluindo todas as expressões do trabalho informal.
Essa complexidade exige um esforço conjunto das entidades sindicais e de centros de pesquisa que permitam uma redefinição das próprias categorias de trabalho, incluindo sua abrangência, tanto para cima do trabalho operário tradicional quanto para baixo, na estrutura social. Nunca a categoria trabalhadora abrangeu tanta gente, mas nunca de maneira tão heterogênea.
É necessário um intenso processo de resgate do mundo do trabalho, da categoria trabalho, de revalorização do trabalho e das suas atividades sociais de criação de valor e de lutador pelos direitos da grande maioria da humanidade, que vive do seu trabalho cotidiano.