O desenho da unificação da Previdência sob o guarda chuva do Ministério da Fazenda mostra que a orientação econômica neoliberal fiscalista e predadora dos direitos previdenciários vai aumentar no novo governo das “fake news”. Recordando sempre, que desde o período da formação dos sindicatos na revolução industrial no século XIX, como com as revoluções sociais (socialistas), social-democracia e constitucionalismo social, na grande maioria dos países do mundo, a luta foi o fortalecimento da Previdência Social.
Previdência tem como regra universal a garantia dos direitos do mundo do trabalho, frente aos riscos de doença, invalidez e velhice com financiamento sempre total dos patrões, no caso dos acidentes, e financiamento paritário entre patrões e trabalhadores dos demais direitos previdenciários.
Com o Golpe de Temer, quiseram avançar para a aposentadoria até a hora da morte aos 65 anos (sabendo em que mais de 10 estados brasileiros e nas periferias das grandes cidades, a expectativa de vida é próxima a essa idade). O golpista rebaixou o Ministério da Previdência Social em Secretaria Previdenciária, excluindo a nomenclatura “Social” e transferindo-a para o Ministério da Fazenda. A resistência das Centrais Sindicais com mobilizações e a greve geral em 2017 foi um anteparo para que a retirada dos direitos previdenciários constitucionais não se efetivasse.
O Governo Bolsonaro, no entanto, vai piorar essa situação, unificando-a com a Receita Federal, numa Secretaria Geral da Receita e Previdência Social, sob o comando do Marcos Cintra, redutor inveterado de impostos, com a consequente redução de direitos previdenciários e demais direitos. No mundo todo continuam existindo Ministérios do Trabalho e da Previdência, separados ou unificados. Nos EUA, meca do Capitalismo Internacional, a Social Security (Ministério da Previdência), a contribuição da previdência pública entre os mais de 120 milhões de trabalhadores registrados, é paritária em 7,5% tanto para trabalhadores como patrões. Absurda, a tendência da ampliação deste jogo duro e cruel que objetiva romper com a Constituição de 1988, culpando trabalhadores. Buscam aumentar assustadoramente a exploração do trabalho com a contribuição individual via poupança apenas dos trabalhadores, livrando o patronato dessa obrigação social constitucional.
Continua o processo de mobilização contra a redução de direitos previdenciários e trabalhistas pelas centrais sindicais.
Sendo assim, é necessário o ataque à mãe de todas as corrupções dentro desse país, combater a sonegação vergonhosa das contribuições previdenciárias e a apropriação indébita das mesmas contribuições.
Devedores da Previdência no Setor Químico
Dados recentes, apontam que a dívida das empresas com a Previdência Social ultrapassa R$ 476 bilhões e que tal volume triplicou nos últimos dez anos. Dentre os devedores aparecem empresas públicas e privadas, governos estaduais e prefeituras. Apesar de um número considerável de empresas falidas configurarem na lista, há empresas lucrativas devedoras e, segundo a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), somente é possível a recuperação de R$ 190 bilhões (39,9%).
Considerando, apenas o Ramo Químico do Estado de São Paulo, a soma das dívidas com a previdência de 4.094 empresas, ainda conforme PGFN, se aproxima a R$ 6 bilhões. Em fins de 2017, o valor era de R$ 5,4 bilhões e o número de empresas era de 3.501, assim, verifica-se crescimento de 11,1% no valor da dívida e de 16,6% no número de empresas devedoras. O setor plástico concentra 64% das empresas devedoras e 68% do valor da dívida; o setor químico responde por 34% das empresas devedoras e 28% do débito; já no setor farmacêutico há 4% das empresas devedores e 2% da dívida total do ramo no estado.
As dez maiores empresas com dívidas previdenciárias totalizam mais de 16% do total das dívidas do ramo. A empresa com maior dívida é a Eldorado Indústrias Plásticas localizada no município de Barueri, com débito superior a R$ 181 milhões, seguida pela CRW Indústria e Comércio de Plásticos Ltda de Guarulhos, com dívida de R$ 130,5 milhões e pela Cria SM Produtos de Higiene Ltda de Diadema que deve à Previdência cerca de R$ 110,9 milhões, as duas primeiras do setor plástico e a última do segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos do setor químico.
De fato, o velho e conhecido discurso, baseado em números que afirmam um déficit previdenciário e acredita numa reforma apoiada somente na redução de custos, que necessariamente pune trabalhadores, é insuficiente. É fundamental a questão da receita e, assim, a os devedores devem pagar e o governo fiscalizar. Ademais, é preciso garantir crescimento econômico com geração de postos de trabalho de qualidade o que ampliará a arrecadação previdenciária e terá impacto social positivo.
Por fim, apenas existirá melhoria na fiscalização e nas formas de cobrança com a devida importância à Previdência Social. O Governo Bolsonaro já anuncia ampliação das atrocidades do Governo Temer, a mercantilização de algo tão caro a sociedade brasileira não caminha: corre e empurra os trabalhadores para o buraco.
Com Rosângela Vieira, Dieese