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Crise e Oportunidade

 

*Texto escrito em conjunto com Rafael Moya, advogado e Presidente do Conselho Gestor da APA de Campinas

Neste mês de junho, em que comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), é um momento importante para refletirmos e fazermos um balanço sobre as questões ambientais. Ninguém em sã consciência dirá que é contra o meio ambiente, que odeia árvores, que não liga para água etc. É fato que a preocupação com as questões ambientais cresce a cada dia. Porém, as pessoas comuns, pouco ou nada têm feito para auxiliar no tema. Nossos governantes também, além da retórica superficial e vazia, nada têm feito para questão, e por vezes, têm feito no sentido de agravar a situação. Quando tratamos da temática ambiental, fica cada vez mais necessário não tratarmos os diversos temas afins em caixinhas, e é imperativo tratarmos todos os temas de maneira transversal. Quando falamos de falta d´água, escassez de energia, poluição, transgênicos, contaminações, agrotóxicos, criminalidade, corrupção, estamos tratando em última instância do meio ambiente social, na qual tudo está inserido e interligado por conta de nossas escolhas enquanto sociedade, seja por ação ou por omissão.

Refutamos aqui, a visão de amplos setores do movimento ambientalista que trata a temática de maneira catastrofista, apocalíptica, fazendo parecer que foi a maldade humana que nos arrastou até aqui e que continua a nos jogar para um caos sem volta. Chegamos até aqui por opções claras de modelos econômicos, e de organização social como um todo. O planeta ainda possui imensos recursos naturais e hoje detemos técnicas que poderiam, em curto período de tempo, recuperar muitos recursos perdidos. A grande questão é: o que nos impede de fazer?

Por que diante de diversas demonstrações de falência deste modelo econômico que depreda e degrada, continuamos a ter inúmeras políticas públicas de incentivo à compra e ao uso do automóvel em detrimento do transporte coletivo (ônibus e trens) ou individual não motorizado (bicicleta)? Por que mesmo diante da gravíssima crise hídrica vivida no estado, o governo de São Paulo não reestrutura a gestão e as práticas da Sabesp que, entre outros erros, não nos preparou para tamanha crise? Por que em Campinas a prefeitura patina na implantação das ciclovias enquanto outras cidades do Brasil e do mundo tratam isso como prioridade? Por que por mais um ano vivemos uma epidemia gravíssima de dengue e nada foi feito de mudança estrutural além de campanhas que jogam a responsabilidade exclusivamente na população e imiscuem o poder público enquanto agente que deveria zelar por uma cidade limpa, organizada e saudável?

Talvez algumas respostas estejam no fato de que nossos governantes ainda não perceberam o fosso que os separa da população. O abismo que está entre suas intenções e ações e as verdadeiras expectativas e necessidades da população e dos cuidados que nossos recursos naturais tanto precisam. Embevecidos pelos resultados das urnas, não percebem que, cada dia mais, residem em um castelo podre a beira da ruína. Castelos esses em função da manutenção de um modelo econômico que não se mostra mais suficiente dentro de nossas possibilidades sociais e naturais. O exército brasileiro realizar exercícios de ocupação da Sabesp como alguns órgãos de comunicação noticiaram não nos trará água. O mal-estar toma conta das pessoas, mas elas ainda não conseguem – ou não querem – entender o porquê e quais as saídas.

Os chineses, utilizam o termo “wei-ji” para definir crise. O termo chinês traz dois caracteres: perigo e oportunidade. E é assim que devemos ver os tempos atuais. Tempo que nos trazem inúmeros perigos, mas também a oportunidade de repensarmos nossas escolhas e nosso papel, como indivíduo e cidadão no mundo, para o bem das presentes e futuras gerações. Aos governantes de plantão resta saber se continuarão plantando ventos para colherem tempestades.

 

 

 

Arlei Medeiros

Arlei Medeiros |
Secretário Geral da Fetquim e Coordenador do Observatório de Gestão Pública do Trabalhador