Em maio, 26,3 milhões de brasileiros declararam não ter trabalhado nem procurado trabalho, mas que gostariam de estar trabalhando. Entre eles, 18,5 milhões afirmaram estar nessa situação por causa da pandemia de Covid-19.
Do total de ocupados, 19,0 milhões estavam afastados do trabalho. Desses, 15,7 milhões disseram que o motivo do afastamento era a pandemia e 9,7 milhões relataram ter deixado de receber remuneração.
Este boletim analisa a situação do rendimento dos trabalhadores que permaneceram ocupados em maio, em meio à pandemia.
Impactos da pandemia na ocupação
Cerca de 36% dos trabalhadores ocupados em maio (30 milhões de pessoas) tiveram alguma perda no rendimento na comparação com a situação anterior à pandemia. A redução média do rendimento foi de 61%.
Esse quadro se deve em grande parte à redução de demanda na economia ou à impossibilidade de o trabalho ser realizado diante das regras da quarentena. Cerca de 61% dos ocupados afastados das atividades tiveram perda média de 49% nos rendimentos.
As perdas foram maiores entre os trabalhadores de serviços e do comércio: Cabeleireiro, manicure e afins (58%), Vendedor ambulante - feirante, camelô, comerciante de rua, quiosque (49%), Artesão, costureiro e sapateiro (40%) e Comerciante - dono do bar, da loja etc. (39%).
Já os militares, os trabalhadores de apoio administrativo, em cargos de direção e os mais qualificados (profissionais com ensino superior ou técnicos de nível médio) tiveram perdas menores nos rendimentos.
Os trabalhadores dos setores relacionados aos serviços, comércio e construção foram os que apresentaram perdas de rendimento mais expressivas. Houve redução de 50% no rendimento para aqueles que continuaram trabalhando no segmento Outros serviços1 e de 33% para os alocados em Alojamento e alimentação.
A pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Covid, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), trouxe novos elementos para se compreender melhor a situação do mercado de trabalho durante a pandemia, principalmente em relação a algumas ocupações que não são facilmente captadas pela Pnad Contínua.
Uma ocupação que chama a atenção no atual contexto é a de Entregador de mercadorias (de restaurante, farmácia, loja, Uber Eats, IFood, Rappy etc.), com número de trabalhadores estimado em 646 mil pessoas no Brasil, dos quais 94% são homens e 62%, negros. O rendimento médio efetivo desse pessoal em maio foi de R$ 1.142, cerca de 18% a menos do que o habitual.
Destaca-se que a massa de horas efetiva diminuiu 19% em relação ao usual, o que sugere diminuição da demanda desse tipo de serviço.
A ocupação de Motorista (de aplicativo, de táxi, de van, de mototáxi, de ônibus) tinha pouco mais de 2,1 milhões de trabalhadores no país. Quase a totalidade era do sexo masculino (95%) e 59% eram negros. O rendimento desse grupo também foi de R$ 1.142, mas com queda de 39% em relação ao habitual. Destaca-se que a jornada média de trabalho diminuiu 48% em maio.
Entre os Médicos, enfermeiros, profissionais de saúde de nível superior, o contingente estimado foi de 1,8 milhão de trabalhadores, 82%, mulheres, e apenas 33%, negros. O rendimento diminuiu 21% e a jornada, 24%. Vale lembrar que muitos profissionais dessa área também se mantiveram em isolamento social e não trabalharam durante esse período.
Por fim, a ocupação de Faxineiro, auxiliar de limpeza etc. (em empresa pública ou privada) era composta de pouco mais de 2,4 milhões de pessoas, com 68% de mulheres e 67% de negros. A jornada de trabalho diminuiu 36%, mas o rendimento efetivo caiu apenas 7%, se comparado ao recebido regulamente.
Impactos entre os trabalhadores informais e auxílio emergencial
A pandemia e o isolamento social tiveram maior impacto entre os trabalhadores informais. Mais da metade (56%) teve perda de rendimento. Entre os formais, 26% apresentaram redução da renda.
A renda dos informais caiu 36%, percentual mais alto do que o verificado entre os trabalhadores com carteira assinada (12%).
Entre os trabalhadores que continuaram em atividade, mas que perderam renda, metade recebeu o auxílio emergencial. Os ocupados que acessaram o auxílio recebiam R$ 1.427 como rendimento do trabalho e tiveram perda de R$ 901 em média. Isso significa que o auxílio (com valor de R$ 600 ou R$ 1.200, dependendo do caso) praticamente cobriu a maior parte das perdas.
Para 76% dos ocupados cujos rendimentos foram reduzidos e que conseguiram acessar os R$ 600 de auxílio, o valor do benefício foi suficiente para cobrir as perdas. Entre os ocupados que receberam R$ 1.200 como auxílio, 92% tiveram as perdas cobertas.