Em artigo publicado no jornal Valor Econômico, o cientista político, professor do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Limongi descreve “o caos” do cenário político brasileiro. Afirma que “a coalizão que comandou o processo de impeachment se esfacelou, perdeu o rumo e trabalha para catar os cacos”, mas segundo ele, será improvável que ainda “se recomponha”.
Em referência ao projeto do PMDB de Michel Temer, intitulado “Ponte para o Futuro”, o cientista ironiza: “A pinguela ruiu, levando consigo muitos dos que dela se serviram para atravessar o rubicão”. E acentua, “Temer é um paciente terminal”.Para o professor, a falta de um nome comum como alternativa à Presidência da República fez as vozes em defesa de Temer ganharem força. “Encontrar um substituto não é simples. O ungido tem que sobreviver, não pode estar contaminado pelo material tóxico que se abateu sobre Temer. Eis aí o problema: restam poucas alternativas. Para onde quer que se olhe, qualquer que seja o nome aventado como a saída, em pouco tempo, problemas aparecem e a candidatura se torna radioativa. Nenhum político cabe no figurino e apelar para juízes, aposentados ou não, representa um salto no escuro”, diz no artigo.
Limongi debocha do “contorcionismo” que usaram para defender Temer de todas as provas apresentadas que revelavam o envolvimento do presidente ilegítimo com o cala boca de Eduardo Cunha. “Sem a menor cerimônia, sem o menor compromisso com a coerência, inventam-se distinções descabidas”, escreveu o cientista político sobre a sanha do jornal O Estado de S. Paulo na defesa de Temer, em referência ao editorial publicado no sábado (27).
“Para defender Temer, convenientemente, privilegia-se o acessório e deixa-se de lado o essencial do episódio. Esquece-se a presteza com que Temer se dispôs a encontrar o empresário e o tema da conversa que o incriminaria”, ressaltou Limongi.
O professor faz em seu artigo uma relação da atitude do juiz Sergio Moro em absolver a esposa de Eduardo Cunha como o “recomendável” no contexto para não atrair atenção sobre as investigações
“Os movimentos para interromper a continuidade das investigações são flagrantes. O juiz Sergio Moro, que sabe o quanto pode esticar a corda, percebeu o risco e, fato raro, deu ouvido ao seu ‘coração mole’, absolvendo a esposa de Eduardo Cunha. Moro conhece seus limites, sabe que nem sempre é recomendável fustigar a fera com vara curta. A prisão da esposa de Cunha poderia elevar a pressão sobre seu tribunal.”
A bomba
O artigo do cientista político encerra atestando que “Temer pode até se safar” da denúncia da JBS, mas, segundo o professor, “dificilmente resistirá ao que ainda está por vir”.
Para Limongi, “a bomba continua detida em Curitiba, dando indicações de que está pronta a explodir”.