Mais de 80% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados, ou seja, estamos totalmente dependentes das oscilações do dólar e do mercado externo, principalmente da Rússia.
As sanções econômicas impostas a Rússia (grande exportadora de fertilizantes) colocou em xeque parte do abastecimento de fertilizantes no Brasil. O preço do NPK tradicional importado pelo Brasil já acumula alta de 108% em relação ao ano de 2020.
O impacto disso atinge o prato de milhões de brasileiros que já vêem no supermercado a alta no preço dos alimentos.
Para se ter ideia, soja, milho e cana-de-açúcar absorvem mais de 73% do consumo de fertilizantes no País. Se o preço dos fertilizantes aumenta lá fora o preço dos alimentos aumenta aqui dentro. Arroz e feijão também sofrem impacto significativo.
Para piorar, como resultado da pandemia, o abastecimento de fertilizantes no mundo se desorganizou causando aumento do preço de certos insumos, o que só piorou após o início do conflito na região da Ucrânia.
Dados de mercado
No Brasil, o setor de fertilizantes nitrogenados tem como foco predominante o uso de gás natural como matéria-prima, permitindo a produção de amônia e/ou ureia.
Atualmente existem no Brasil quatro unidades de fertilizantes nitrogenados (com uso de gás natural para a amônia ou ureia). Essas unidades surgiram como ímpeto estatal para desenvolvimento da cadeia de fertilizantes em solo nacional, as Fafens da Petrobras.
Houve tempo em que a Petrobrás era a maior produtora de nitrogenados no Brasil. Em 2015, quando as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafens) estavam sob direção da estatal, a produção nacional era de cerca de 73% dessa demanda. Hoje, a dependência de fornecedores externos é de pelo menos 96%, segundo dados do Sindipetro-RJ.
Pouco a pouco o atual governo vem promovendo um plano agressivo de desinvestimentos com o argumento de que é bom para os investidores que a Petrobrás fique apenas na exploração de petróleo e gás.
Em 2020, mesmo que lucrativas, as duas Fafens na Bahia e a de Sergipe foram arrendadas; a Araucária Nitrogenados, no Paraná, que também era lucrativa e essencial com a produção do ARLA-32, obrigatório para a redução da emissão de poluentes, foi fechada; e a fábrica de Três Lagoas (MS), que só precisava de conclusão de 20% de obras para começar a funcionar, foi privatizada.
Atualmente existem no Brasil quatro unidades de fertilizantes nitrogenados: Unigel Agro BA (antiga FAFEN-BA), atualmente arrendada para a Proquigel com produção de amônia e ureia; Unigel Agro SE (antiga FAFEN-SE), atualmente arrendada para a Proquigel com produção de amônia, ureia e sulfato de amônio; Yara Brasil (antiga Vale, em Piaçaguera), em operação com produção de amônia e nitrato de amônio; e Araucária Nitrogenados S.A. (antiga FAFEN-PR), atualmente fechada, administrada por subsidiária da Petrobras e encontra-se em processo de arrendamento (já passou por negociações junto ao Acron Group - produzia amônia e ureia a partir de resíduo asfáltico). Existem ainda três projetos de FAFENs que foram anunciados ou tiveram sua construção iniciada em anos anteriores, porém não se encontram concluídos ou em construção.
“Precisamos mudar a política de preços da Petrobrás (atrelada ao dólar), o que encarece o preço dos combustíveis e consequentemente dos alimentos, fortalecer nossa produção nacional de óleo, gás, química, petroquímica e defender o desenvolvimento das Fafens que fabricam os fertilizantes nacionais para atender primeiro às necessidades do povo e não dos investidores da Petrobrás. O povo tem fome, temos que ter políticas públicas que barateiem o preço da comida”, afirma Deusdete Virgens, secretário de Finanças da FETQUIM.