O Brasil é o único país com dimensões continentais que tem um sistema público de saúde universal e gratuito, o SUS. Em todos os demais, quem precisa de atendimento tem que pagar um plano de saúde ou os serviços prestados. Essa foi uma conquista dos movimentos sociais que, organizados, conseguiram garantir na Constituição de 1986 a SAÚDE como um direito de todas as pessoas.
“O direito ao SUS nasce da luta dos trabalhadores e não tem chance de dar certo se os trabalhadores não estiverem envolvidos nele. Temos que ficar atentos e participar ativamente dos Conselhos de Saúde, que hoje estão na mira dos defensores da medicina privada e seus interesses financeiros”, alertou o ex-ministro Alexandre Padilha, na manhã desta sexta-feira, 23, em debate promovido pelo Coletivo de Saúde da CUT-ABC no auditório do Sindicato, em Santo André.
Padilha é médico infectologista e foi ministro das Relações Institucionais no Governo Lula e ministro da Saúde no Governo Dilma Rousseff.
O presidente do Sindicato, Raimundo Suzart, abriu a atividade saudando Padilha e relembrando o histórico de luta da categoria química do ABC em defesa da saúde do trabalhador. "É um prazer recebê-lo na sede deste Sindicato, que tem na sua história grandes lutas conta o adoecimento e morte no ambiente de trabalho e nas comunidades em torno de indústrias, como no caso das Indústrias Matarazzo de São Caetano, por exemplo, que foi a primeira empresa a ser fechada no Brasil por absoluta falta de condições de trabalho", destacou Raimundo.
Durante sua apresentação, Padilha explicou ao plenário lotado de lideranças de diversas categorias da região, a necessidade da defesa do SUS integrar a agenda de lutas dos sindicatos, pois a saúde do trabalhador não pode ficar na mão do dono da empresa, nem de um plano de saúde contratado pela empresa.
“O trabalhador precisa entender que só o SUS, com seus centros de referência em saúde do trabalhador, com o Mais Médicos, com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) funcionando, com a Farmácia Popular funcionando, é que pode garantir que o trabalhador não dependa de um plano de saúde contratado pelo patrão”, afirmou.
E foi além: a existência do SUS, disse o ex-ministro, pode ser decisiva para que o trabalhador quando aposentado tenha atendimento à saúde quando não tiver mais direito ao convênio médico da empresa.
Além das lideranças da categoria química, estiveram presentes representantes dos seguintes sindicatos da região: bancários, trabalhadores em empresas de refeições coletivas, trabalhadoras em confecções, metalúrgicos, rodoviários, aposentados metalúrgicos e químicos, vidreiros, AFUSE, agentes comunitários de Saúde, Sindsáude (rede pública e rede privada) e petroleiros.
Confira abaixo alguns trechos da sua explanação
Congelamento das verbas sociais
O maior ataque do governo Temer na Saúde foi a mudança na Constituição estabelecendo a regra de que nos próximos vinte anos o Ministério da Saúde não pode aumentar os recursos para a Saúde no Brasil. Isso na prática inviabiliza levar a saúde pública para toda a população. Hoje já não alcança isso, imagina ter que ampliar, ter mais hospitais, mais unidades de Saúde, mais medicamentos e mais médicos para a população sem poder colocar um real a mais de recurso. É um ataque que, na prática, destrói a ideia de o Brasil levar saúde pública para toda sua população.
Mais Médicos versus Plano Popular de Saúde
A briga maior contra o programa Mais Médicos não era o mercado de trabalho de médicos no Brasil, mas porque o programa tinha o compromisso claro de fortalecer os cuidados básicos da saúde. Por isso trouxemos médicos cubanos que se formaram pensando nisso, médicos que convivem com a comunidade, conhecem as pessoas que atendem. A atenção básica de saúde é um modelo que aposta mais na prevenção do que na cura e para isso está inserido na comunidade.
Só que, na lógica do mercado, para ter um universo de pessoas que consumirá o Plano Popular de Saúde é preciso destruir o atendimento básico de saúde. Temer disse, por exemplo, que pode ter equipe de família sem agente de saúde. Com isso, autoriza a demissão dos agentes comunitários, comprometendo a qualidade do atendimento.
Febre Amarela
É uma vergonha o que o Brasil está passando. A vacina contra a Febre Amarela é tecnologia nossa, produção brasileira. A falta de vacina para a população é o resultado dos cortes que o governo golpista está fazendo nos investimentos sociais. Não houve planejamento para produzir a quantidade de vacinas necessárias para um surto que já vinha se anunciando desde 2015 na região Sudeste.
Diante da falta de quantidade suficiente de vacina, o fracionamento está correto, mas é uma vergonha, pois poderíamos ter produzido vacina para todos.
Saúde do Trabalhador
Toda luta nossa nos anos 70 e 80 na área de saúde do trabalhador era voltada para a prevenção de acidentes e contaminação, onde a categoria química e o Sindicato dos Químicos do ABC tiveram papel fundamental.
Depois passamos para o trabalho voltado sobre as doenças relacionadas aos esforços repetitivos (LER/DORTs) e hoje, os números assustadores são de doenças psicológicas, o adoecimento mental, que tem relação direta com o assédio moral e sexual dentro do ambiente de trabalho.
Esse é um tema para a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), Comissões de Fábrica, representações sindicais, mas também do SUS, por meio dos Centro de Referência. Isso só mostra o quanto o SUS como sistema público de saúde independente dos patrões é necessário à classe trabalhadora.
Filas de espera e atendimento no setor privado
Há entidades privadas que têm papel importante no SUS, como as Santas Casas, que podem complementar o sistema. Mas precisa ter acompanhamento, critério, controle público. Diferente do Corujão do Dória, que simplesmente tirou as pessoas da fila sem fazer nada. Alguns procedimentos na madrugada são inviáveis para setores da classe trabalhadora e idosos, aí as pessoas faltavam e eram tiradas das filas. Na verdade, o projeto de governo do PSDB é esvaziar a gestão pública e entregar tudo para OSs (entidades de caráter privado).