Não existe crise da água ou hídrica. Há crise no abastecimento gerada pelo capitalismo, os empresários, a especulação financeira por meio da terraplanagem predatória para loteamentos, o assoreamento e desflorestamento dos leitos dos rios com a derrubada de mananciais, a poluição do Tietê e outros reservas, como: o Guarapiranga. Outro elemento grave na crise do abastecimento foi a privatização da Sabesp.
Nunca tinha faltado água em São Paulo. Não é à toa que a capital paulista sempre fora conhecida como a terra da garoa. O problema foi a derrubada de 79% dos mananciais da região metropolitana do estado ao mesmo tempo em que não houve ampliação dos sistemas de captação e armazenamento de água.
Um estudo divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica constata que “a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema Cantareira, centro da crise no abastecimento de água que assola São Paulo, está pior do que se imagina. Hoje, restam apenas 488 km2 (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.”
“As florestas naturais protegem as nascentes e todo o fluxo hídrico. Com esses índices de vegetação, não é de se estranhar que o Sistema Cantareira opere, atualmente, com o menor nível histórico de seus reservatórios, já que para ter água é preciso ter também florestas”, define o estudo.
Estiagem entre um período ou outro de chuvas fortes são comuns em várias partes do mundo, mas não justificam a falta de abastecimento. A falta de planejamento causou o problema. Tanto é que entre 2009 e 2011 o excesso de chuva causou enchentes na região do Cantareira e muita água foi inutilizada.
Os reservatórios que abastecem o entorno da capital paulista são os mesmo de há 30 anos enquanto a população da região metropolitana aumentou de 12 para 22 milhões de pessoas. Estudos da USP já apontavam desde a década de 90 que a falta de preservação dos mananciais, a poluição dos rios e etc poderiam causar falta de água. Pelo menos há 10 anos, estudos da própria Sabesp apontavam o problema iminente no abastecimento.
Com a abertura do capital da Sabesp na Bolsa de Valores de Nova York, o abastecimento de água e coleta de esgoto passou para o mercado gerir. Isso explica o inacreditável percentual de desperdício pela Sabesp de 36% da água tratada por causa de vazamentos e falhas na distribuição. Os dados são da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp).
Uma pesquisadora americana ficou estarrecida ao visitar São Paulo e saber que a cidade é cortada por um rio, mas sofre de falta de água.
E como combater a crise do abastecimento? Só existe uma maneira: com a reestatização da Sabesp e a recuperação dos mananciais para a proteção das reservas de água. Esta crise do abastecimento mostra que o Estado deve gerir o sistema de captação, armazenamento, distribuição e reutilização da água, que não deve gerar lucro, deve manter a vida! Nas mãos do mercado, a água é uma mercadoria como outra qualquer e serve apenas ao pagamento de dividendos aos acionistas. Por isso, qualquer discussão sobre a crise no abastecimento no estado de São Paulo só pode evoluir com a defesa da reestatização da Sabesp.