Na última década (2004/2014), a dinâmica da geração de emprego, de queda do desemprego, crescimento dos salários, aumento do assalariamento e da formalização, entre outros fenômenos, mudou a realidade do mundo do trabalho no Brasil. Mais empregos e melhores salários, aumento dos benefícios previdenciários, das transferências de renda assistencial e da oferta de crédito ampliaram a capacidade de consumo e de investimento das famílias. As empresas produziram mais, cresceram, tiveram lucro, geraram mais empregos e um círculo virtuoso foi criado.
Entretanto, a situação mudou drasticamente. Graves restrições ao crescimento econômico trouxeram a recessão e o desemprego para o cotidiano dos trabalhadores.
Os números que mostram o comportamento do mercado de trabalho metropolitano em 2015 foram divulgados pelo DIEESE e pela Fundação Seade, na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), e pelo IBGE, na Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Os dois levantamentos mostram a mudança situacional no comportamento do emprego e dos salários. O que se destaca são a intensidade e a velocidade da desestruturação.
As taxas de desemprego crescem nas regiões metropolitanas. O desemprego aberto medido pela PME, do IBGE, cresceu 2,0 p. p., passando de 4,8% (2014) para 6,8% (2015), o que representou aumento de 43% do contingente de desempregados. Segundo o DIEESE e a Fundação Seade, de 2014 para 2015, o desemprego cresceu em São Paulo de 10,8% para 13,2%; em Salvador, de 17,4% para 18,7%; em Fortaleza de 7,6% para 8,6% e; em Porto Alegre, de 5,9% para 8,7%.
A indústria de transformação e a construção civil continuaram puxando intensivamente o movimento de fechamento de postos de trabalho em 2015. Diferentemente de 2014, os setores de serviços e comércio não compensaram a queda da indústria e construção, parando as contratações ou demitindo. Houve, portanto, recuo do número de trabalhadores ocupados.
As consequências aparecem na redução do número de pessoas com carteira de trabalho assinada, algo que não se observava há uma década. Esse movimento indica que o aumento do assalariamento sem carteira e o trabalho autônomo ou por conta própria tendem a crescer.
O rendimento real dos ocupados voltou a cair (-3,7%), depois de uma década de aumentos contínuos, segundo o IBGE. Menos empregos e menores salários repercutem na redução da massa salarial, na qual se observou retração de (-5,3%).
O desemprego na indústria e construção atinge predominantemente chefes de família. Agora, o desemprego no comércio e nos serviços alcança os mais jovens e as mulheres.
A desestruturação do orçamento muda a estratégia das famílias, exigindo que aqueles que não estavam no mercado de trabalho (jovens, mulheres, aposentados) comecem a procurar uma ocupação. Esse movimento aumenta conforme as verbas resultantes da rescisão dos contratos de trabalho e do seguro-desemprego acabam.
As famílias reduzem o consumo, suspendem investimentos na casa, deixam de pagar dívidas, perdem bens e patrimônio, abrem mão da formação escolar e profissional.
A economia continua girando com o pé no freio, sem crescer. É fundamental construir uma transição que promova a retomada do crescimento econômico, trazendo como componente estruturante a sustentação no médio e longo prazos.
As transformações distributivas que promoverão o bem-estar social e a qualidade de vida requerem uma dinâmica em que a atividade produtiva amplie a riqueza do país, gerando empregos de qualidade e dobrando a renda média da população. Um enorme desafio que exigirá grande lutas.