Há diferentes maneiras de narrar a história e oferecer subsídios para quem quer conhecê-la, interpretá-la, conectar significados e refletir sobre o sentido da vida, do trabalho e da ação daqueles que nos antecederam e que, de múltiplas maneiras, contribuíram para construir o presente. Três sentidos para o termo presente: aqui e agora; declarar presença; dádiva.
Londres, 28 de setembro de 1864. Uma famosa sala de espetáculo recebe um público diferente convocado por ativistas franceses. Reúnem-se militantes ingleses, irlandeses, poloneses, italianos e alemães. Convocado de última hora, um jornalista alemão, que vivia precariamente na capital londrina, participou do encontro, transformando-se em grande protagonista da criação da Associação Internacional dos Trabalhadores, que veio a desdobrar-se na 1a Internacional. Presença declarada e destacada!
Um ótimo presente oferece Mary Gabriel, uma norte-americana que dedicou anos pesquisando a vida de um dos maiores intelectuais do século XIX, que transformou, de maneira radical, a maneira como vemos e interpretamos o mundo e como nele vivemos. O longo e minucioso investimento culminou em uma escolha delicada que orientou toda a narrativa: ter como fonte estruturante as cartas trocadas entre o personagem, sua esposa e filhas.
Em entrevista para Carta Capital, Mary declarou: “... depois que li sobre suas filhas, pensei que seria mais enriquecedor se eu me ocupasse de todas as mulheres de Marx. Essa história, porém, deveria ser centrada no homem da vida delas, o que ele de fato foi, para o bem ou para o mal”. Essa opção está registrada de maneira magistral nas 968 páginas do livro “Amor e Capital: A saga da família de Karl Marx e a história de uma revolução”, Editora Zahar.
O texto é leve, mas os fatos são densos. As cidades se sucedem no tempo de buscas e de fugas, enquanto o trabalho de reflexão se confronta com inúmeros dramas pessoais e familiares. Apoiada em grande base documental, inúmeras biografias e principalmente nas cartas trocadas entre Marx, a esposa dele, Jenny, as filhas do casal e Engels, a saga da família Marx torna-se um presente simplesmente imperdível!
É fantástico o contexto histórico que brota em cada página deste século turbulento, repleto de erupções e de lutas sociais continuadas até hoje, processos nos quais floresceu a classe operária como protagonista de uma longa história de confrontos para superar a exploração, a desigualdade e a miséria.
Dramático é ver o esforço político da classe trabalhadora para construir a unidade para empreender suas lutas; desesperador é perceber a desigualdade na correlação de força com a classe dominante; triste, muito triste, são os inúmeros e intermináveis rachas, divisões, disputas e brigas oriundos de um “certo vírus histórico” para o qual a política ainda hoje não encontrou cura! Há inúmeros e complexos elementos nessa história que nos ajudam a compreender o presente!
Ano de 1880. Marx e família estavam no balneário de Ramsgate, Inglaterra, em agosto. Com a palavra Mary: “De forma surpreendente, Marx convidou John Swinton, um jornalista reformista liberal de Nova York para visitá-lo... Swinton diria que ficara aguardando a tarde inteira o momento de fazer uma pergunta a Marx sobre o que o jornalista chamou de “a lei definitiva do ser”. Por fim, surgiu uma oportunidade, e ele perguntou: “E qual é essa lei?” Marx olhou para o mar agitado e a multidão na praia e respondeu: “A luta!”.
Ação permanente no presente daqueles que sonham com a utopia de vivermos em liberdade e igualdade!